#CorpoLivre

O que é o #CorpoLivre que aparece no meu feed?

“Uma cultura fixada na magreza feminina não significa uma obsessão pela beleza feminina, mas uma obsessão pela obediência feminina. A dieta é o mais potente sedativo político na história das mulheres. Uma população silenciosamente louca é uma população dócil”.

Ao desenvolver a teoria do mito da beleza, a escritora feminista Naomi Wolf explica o objetivo da sociedade patriarcal de exercer seu controle sobre as mulheres. Os padrões estéticos criados e amplificados a cada década criam um sistema para fazer com que as mulheres sintam-se constantemente insatisfeitas consigo mesmas. Abre-se então um leque de ofertas de cirurgias, remédios ou dietas milagrosas, que prometem “corrigir” características e processos naturais dos corpos femininos.

É nesse contexto de controle que surge o movimento corpo livre ou body positive, junto ao combate à gordofobia e à pressão estética por corpos padronizados. Os termos estão presentes nas redes sociais por meio de hashtags, debates e perfis de ativistas no Instagram, Twitter, Youtube e Facebook, entre outras. Os perfis de ativistas combatem uma ideologia controladora e patriarcal, impulsionando a mensagem de que a beleza está em todas as formas e tamanhos.

Ativismo gordo ou gordativismo

Movimento que luta por acessibilidade e reconhecimento das pessoas gordas
(fonte: Guilherme Fontes)

Gordofobia

É uma forma de opressão reproduzida nos pensamentos e comportamentos sociais que promove a exclusão de pessoas gordas e desencadeia um processo interior de culpabilização e a autopercepção negativa sobre seus corpos
(fonte: Magdalena Piñeyro)

Pressão estética

Ao contrário da gordofobia que só pode ser vivenciada por pessoas gordas, a pressão estética é algo que pode atingir todas as pessoas

Corpo livre

Movimento que promove a aceitação corporal para quebrar a estigmatização de um modelo padrão de beleza
(fonte: Alexandra Gurgel)

Body shaming

Traduzindo literalmente, significa vergonha do corpo e é ridicularização do corpo de outra pessoa
(fonte: Alexandra Gurgel)

O movimento body positive surgiu em Los Angeles, nos Estados Unidos, juntamente com o ativismo gordo, entre as décadas de 1960 e 1970, através de um grupo de mulheres feministas. Ao mesmo tempo em que lutavam pelo direito ao voto e pela igualdade de gênero e, ainda, dentro do feminismo negro, pela abertura de discussões raciais em relação à especifidades das mulheres negras, se observava o quanto o pessoal é político. As pautas sobre a sexualidade, o corpo, as relações de dominação entre os sexos favoreceram o ativismo gordo e o movimento body positive.

No Brasil, o movimento vem ganhando força nos espaço virtuais, com a hashtag #CorpoLivre, nome adaptado pela jornalista, escritora e influencer Alexandra Gurgel. Aos nove anos ela fez a sua primeira dieta por conta das pressões estéticas que sofria. Desde então, embarcou em uma jornada que envolveu bulimia, anorexia, a realização de uma cirurgia de lipoaspiração e, ainda, uma tentativa de suícidio. Hoje, a carioca tem 31 anos e uma relação saudável com o corpo, resultado de um processo de auto reflexão, no qual percebeu que a sua insatisfação era resultado dos padrões de beleza impostos pela sociedade. Tem uma conta com 961 mil seguidores no instagram,495 mil no youtube e 89,7 mil no twitter. De lá, aborda pautas relacionadas à gordofobia, autoestima, amor próprio e as problemáticas que originam dos padrões de beleza.

Ted Talk de Alexandra sobre a cultura do corpo perfeito
“Xanda” é uma das diversas influencers que vêm se posicionando nos seus perfis e usando sua plataforma para trazer atenção a como nós movimentamos uma indústria de produtos e procedimentos estéticos. Em um vídeo publicado recentemente nas suas redes sociais, ela divulgou uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Cirurgias Plásticas que aponta um aumento de 141% em procedimentos feitos em jovens de 13 e 18 anos nos últimos dez anos.

A ativista ressalta que, coincidentemente, o Instagram também completou um década em funcionamento. A rede social é uma forte estimuladora de ferramentas e lifestyles que contribuem com distúrbios mentais que afetam a autoestima dos seus usuários. Com filtros que cada vez mais mudam o aspecto da pele, afinam os narizes e preenchem bocas, gerando um fenômeno chamado de “snapchat dysmorphia”, referente a outro aplicativo que popularizou o uso de filtros.

Como uma forma de combater os comportamentos gordofóbicos que são reproduzidos nos feeds e timelines, com memes, piadas, comentários e até a política de censura de imagens, Alexandra criou a página do @movimentocorpolivre. A conta encoraja pessoas a postarem fotos que exibem seus corpos reais, gordos, magros, com estrias, peitos caídos, peitos pequenos, celulite, cicatrizes e qualquer outra marca que não cabe dentro de um padrão inalcançável. Assim, o movimento vem despertando uma onda de pessoas a marcarem presença, como é o caso de Bielo Pereira que conheceu essa ativismo em uma festa chamada Toda Grandona que é voltada para as pessoas gordas.

Bigênere, prete e gorde, são as palavras que a apresentadora e empresária Bielo usa para se descrever no seu instagram. A influencer digital também se identifica como intersexo e transgênere pois apesar de ter sido identificada biologicamente com o gênero masculino, ela apresenta características fenotípicas do gênero feminino. Assim, ela aceita pronomes masculinos, femininos e linguagem neutra.

Com 158 mil seguidores no instagram e apenas 27 anos, Bielo produz conteúdo voltado para a desconstrução dos padrões de gênero, beleza e racismo. Em entrevista à Carta Capital, disse: “Antes mesmo de a pessoa olhar e ver se eu era gay ou preta, já me via como gorda. A gordofobia vem antes de tudo. Até dentro da causa negra e trans eu sinto preconceito pelo meu corpo”.

Palestra “Aprendendo a me Amar” de Biel no evento Conecta em 2019

Através do gordativismo e do movimento Corpo Livre, Alexandra Gurgel foi uma das inspirações de Bielo Pereira para criar uma plataforma ativista. Além das duas, outras mulheres como Letticia Munniz, Raissa Galvão, Thais Carla, Luana Carvalho, vêm usando seus perfis para mostrar que um corpo gordo é infinito de possibilidades, mas que também não as define. Gorda também pode ser fashionista, dançarina, apresentadora, modelo, etc. Liberdade corporal não é uma apologia à obesidade e sim a abertura de espaços e diálogos para todas as formas, é isso que elas defendem.