diversidade na deficiência
Mulher LGBTQIA + com deficiência: múltiplos estigmas
Pode-se considerar que a representatividade do grupo feminino com deficiência na cultura LGBTQIA + no Brasil beira a zero, já que este grupo é invisibilizado socialmente. Muitos acham que por serem pessoas com deficiência, estas mulheres não têm o direito a desfrutarem da sua orientação sexual.
Inúmeras mulheres LGBTQIA + com deficiência não conseguem revelar sua orientação sexual por medo de serem julgadas incapazes, além de não terem o apoio necessário para viverem livremente essa sexualidade. Desta forma, muitas ainda vivem a homossexualidade escondida dos amigos e de familiares. Esse é o caso de Daniela (nome fictício), que desde os dezesseis anos descobriu ser uma mulher lésbica, mas nunca conseguiu revelar a família. Daniela possui uma deficiência física congênita nos pés, que a impossibilita de andar. Para ela, é bem mais dificil ser uma mulher homossexual e ter uma deficiencia fisica. “Eu sou uma mulher, tenho uma deficiência e sou lésbica. É um peso muito grande, socialmente falando, e quando não se tem o apoio da família torna-se ainda mais complicado. Nunca consegui revelar a minha sexualidade aos meus pais, o que escuto dentro da minha casa já dá pra saber que eles não aceitariam ter uma filha com deficiência LGBTQIA +,” lamenta.
Esse quadro também é vivido pela estudante de Direito Ravanny Landim. Ela tem uma deficiência sensorial conhecida como vulvodínia. Ravanny sofre diariamente de dores crônicas na área pélvica e também é questionada sobre a veracidade da sua deficiência, além de sofrer o preconceito por ser uma mulher bissexual.
Esse questionamento foi vivido pela psicóloga Priscila Siqueira, que desde criança entendia-se como bissexual. Priscila é portadora de nanismo e sempre teve sua sexualidade questionada por ser uma mulher com deficiência. De acordo com ela, sua família não aceita sua orientação sexual, além disso o assunto tornou-se tabu dentro de casa.
Existe dentro do grupo feminino com deficiência uma grande diversidade de corpos LGBTQIA +. Deste modo, também há mulheres trans com deficiência, contudo a grande maioria segue invisibilizada por ser considerada fora dos padrões aceitáveis socialmente.
Raquel da Silva é uma mulher trans, surda, que teve sua história construída através de muita luta contra o preconceito e a transfobia. Para ela, ser uma mulher trans com deficiência é ser uma mulher como qualquer outra. Contudo, a sociedade é quem a exclui e a distingue. “Sou uma mulher trans, surda e nunca me senti menos mulher por ser trans ou uma pessoa com deficiência. Sou casada há cinco anos e meu esposo também é surdo. O que sofremos diariamente é o preconceito de que não podemos ter um relacionamento por sermos considerados fora do padrão social. Mas isso não me abala, tenho a minha família e sou feliz do meu jeito,” dispara.
Thaís também é uma mulher trans, surda e que luta diariamente pelo direito de ser quem ela é. Para ela, a transfobia e o preconceito são tristes realidades que marcaram sua vida. “A minha família me aceitou muito bem. Contudo, a sociedade não nos deixa viver como queremos. Ser uma mulher trans com deficiência é muito difícil. Se você não sofrer por ser LGBTQIA +, com certeza, você é desvalorizada por ter uma deficiência. Acham que porque sou surda, não consigo compreender os gestos e olhares transfóbicos e preconceituosos ao meu respeito. Mas o importante é manter-se de cabeça erguida,” aposta.
De acordo com a primeira deputada transexual Robeyoncé Lima, a luta pela visibilidade do grupo LGBTQIA + com deficiência deve começar a partir de políticas públicas que asseguram o direito dessa parcela populacional. “É fundamental a acessibilidade para que este grupo tenha mais autonomia social. As Juntas lutam pela criação de políticas públicas para mulheres LGBTQIA +, bem como para pessoas com deficiência.” relata.
Distante de serem alcançadas pelas políticas públicas, muitas dessas mulheres também não se sentem aceitas na sociedade, principalmente nos grupos religiosos. Na contramão dos processos excludentes, o movimento cristão chamado “Igreja Inclusiva”, nasceu com o intuito de acolher o grupo LGBTQIA+, também como qualquer outro grupo excluído pela sociedade. Para a pastora e líder da igreja inclusiva no Recife, Daniela Rocha, a sexualidade faz parte do ser humano e não deve nunca ser julgada, além de nós aceitarmos que existe uma diversidade de corpos na sociedade. No vídeo abaixo, ela também conta sobre o nascimento do movimento cristão e sua visão religiosa acerca das mulheres LGBTQIA + com deficiência.
Ainda é muito pouco a representatividade das mulheres LGBTQIA+ com deficiência. Porém, ela vem aumentando pouco a pouco. As redes sociais são um lugar de fala para que estas mulheres ganhem destaque social. Muitas utilizam a comunicação para amplificar a voz e a luta contra a homofobia, a transfobia e o preconceito contra a pessoa com deficiência. Abaixo, listamos mulheres LGBTQIA + com deficiência para você acompanhar no Instagram e conhecer mais sobre suas histórias e trajetórias.
Oito mulheres LGBTQIA + para você possa seguir!
Uma luta diária pela aceitação social!
As mulheres são programadas para serem perfeitas aos olhos da sociedade. Desde os cabelos, roupas e até procedimentos estéticos invasivos, os grupos femininos são levados a um ideal de perfeição inatingível. Essa auto imagem inalcançável causa severos distúrbios de imagem ou dismorfia corporal, que é um termo utilizado para diferenciar aquilo que a pessoa acredita ser do que ela realmente é, ou seja, a dismorfia corporal é um transtorno psicológico onde a pessoa acredita ter defeitos físicos que não possuem ou, então, possuem em pequenos níveis, mas acredita serem grandiosos.
Essa é a realidade de Isabella (nome fictício), que desde muito nova não consegue aceitar o próprio corpo PCD. Bella, relata que nunca conseguiu olhar-se no espelho ou tirar uma foto. “Eu não consigo conviver com o meu próprio corpo e com a deficiência que tenho. Me olhar no espelho e aceitar que tenho uma deficiência motora e que uso muletas é horrível, não consigo mudar isso em mim”, lamenta.
Bella descobriu-se lésbica aos 15 anos. Porém, sua orientação sexual nunca foi revelada à família. “Não me sinto confortável em revelar quem eu realmente sou aos meus parentes. Sou uma mulher lésbica com deficiência e meu maior medo é não ser aceita pelos meus familiares. Falando como mulher PCD, não me sinto no direito de ter a minha orientação sexual revelada”, finaliza.
Essa é a realidade de muitas mulheres LGBTQIA+ com deficiência, já que a invisibilidade desse grupo acarreta em uma sobrecarga emocional e psicológica. Ser uma mulher com deficiência LGBTQIA+ carrega em si um sofrimento muito maior em relação a aceitação da auto imagem e da sexualidade. Deste modo, esse grupo é triplamente atacado pela sociedade: primeiro por ser mulher, segundo por ser pessoa com deficiência e terceiro por ser LGBTQIA+.
De acordo com a psicóloga Elisabeth Lucena Miranda, é mais difícil para as mulheres com deficiência assumirem-se homossexuais, já que muitas destas ainda são infantilizadas e objetificadas. No vídeo a seguir, Elisabeth destaca a importância da aceitação da auto imagem e da identidade de gênero.