BTS ARMY:
Fã ativismo e causas sociais

Show de BTS em Las Vegas. Crédito da foto: Big Hit Entertainment

O fandom ARMYNome oficial dos fãs do BTS, também é conhecido pela mídia ocidental como BTS ARMY. é bastante conhecido pela sua organização, quando se trata de espaços digitais, ou seja, redes sociais. Views no Youtube, stream e votações são exemplos que tiveram resultados positivos, graças à estrutura bem planejada que o grupo criou para executar essas atividades. Com mais de 40 milhões de membros, o ARMYNome oficial dos fãs do BTS, também é conhecido pela mídia ocidental como BTS ARMY. acaba se destacando entre outros grupos de fãs por se posicionar e mobilizar pautas que dizem respeito não só ao BTS, mas também a causas sociais. 

É necessário lembrar que, há alguns anos, se referir a grupos de admiradores não era algo positivo e até hoje ainda existem prejulgamentos por causa de estereótipos que foram criados com base em alguns casos específicos. Se feita uma breve pesquisa no Google, é possível perceber que os sinônimos que aparecem são em sua maioria negativos, como: fanáticos, obcecados, doentes, maníacos. Artistas como Madonna, Beyoncé, Miley Cyrus e Justin Timberlake já foram atacados por fãs, outros casos mais sérios são os de Selena e John Lennon, ambos assassinados por pessoas que diziam ser seus fãs. 

Outro rótulo que se faz presente tem ligação ao aspecto de gênero, sexualidade, raça, geração e outros. É muito fácil, hoje em dia, fazer algumas associações errôneas, quando uma pessoa diz fazer parte de um fandom, independentemente de qual seja ele, a pessoa será apontada por algum motivo. O ARMYNome oficial dos fãs do BTS, também é conhecido pela mídia ocidental como BTS ARMY. é um exemplo de fandom diversificado e também julgado, mesmo sendo conhecido como uma massa grande e importante na cultura de fãs e nas redes sociais atualmente. Um dos integrantes do BTS, o Suga, demonstrou que sabe da situação que seus fãs passam apenas por os admirarem.

Causas Sociais

BTS, em si, é um grupo que atua filantrópicamente em causas sociais. Tudo começou após o lançamento da campanha anti-violência Love Myself, parceria com a Unicef que tem como objetivo levantar fundos para combater a violência entre crianças e jovens. Para a campanha, o BTS e sua empresa, a Big Hit Entertainment, doaram 50 milhões de won sul-coreanos (US $418.897,60) e destinaram 3% da venda dos álbuns da coleção Love Yourself para a ação. Tais envolvimentos sociais se estenderam e continuaram de forma individual, a ponto dos membros realizarem doações em seus respectivos aniversários.

Por se inspirar bastante nas ações do septeto, o ARMYNome oficial dos fãs do BTS, também é conhecido pela mídia ocidental como BTS ARMY. começou a mobilizar projetos offline em prol de movimentos globais. Um exemplo disso é o grupo One In An ARMY (OIAA), que atua em colaboração com organizações sem fins lucrativos ao redor no mundo e incentiva doações.  Os fãs de BTS e de outros grupos de K-Pop também chamaram bastante atenção ao boicotar o comício do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em Tulsa, Oklahoma, no dia 20 de junho de 2020. O evento aconteceu na arena BOK Center, que tem capacidade para 19 mil espectadores, mas para o qual só compareceram 6.2 mil pessoas, deixando assim o local parcialmente vazio. 

Outro exemplo que podemos citar que envolve o ARMYNome oficial dos fãs do BTS, também é conhecido pela mídia ocidental como BTS ARMY. e ações sociais foi o episódio do movimento Black lives matter, que surgiu em 2013 e voltou a ser pauta em 2020 após a morte de George Floyd, um homem negro que foi assasinado por um policial em Minneapolis, nos Estados Unidos. Dessa forma, a hashtag #BlackLivesMatter (Vidas negras importam) ficou em alta nas redes sociais, e contou com o apoio de várias celebridades, inclusive do BTS, na luta contra o racismo e para cobrar das autoridades o resguardo das  vidas negras. 

Antes de terem o posicionamento do grupo sobre a causa, os fãs do septeto já estavam agindo ao se juntarem com fãs de outros grupos de K-Pop para derrubar o aplicativo iWatch Dallas — criado pela polícia local e que serviria para juntar denúncias de ações violentas dos ativistas, e também na tarefa de ocultar postagens racistas nas redes sociais através da tag #WhiteLivesMatter (Vidas brancas importam). Como os fandoms conseguiram tal feito? Simples, compartilhando vídeos dos seus artistas favoritos, as famosas fancams

Army como fãs ativistas

Essa capacidade de organização presente entre os fãs é algo que tem que ser reconhecido, principalmente se essa notoriedade quebrar a visão que as pessoas têm de que, só porque gostam da cultura pop sul-coreana, são adolescentes barulhentas e obcecadas. Tem que ser deixada de lado essa imagem que é característica do machismo estrutural. Assim, ao romper esses estereótipos, pode-se começar a pensar no fã como uma figura ativista, se levado em consideração esse comportamento nas redes sociais. 

No artigo acadêmico intitulado Fan Activists or Activists Who Happen to Be Fans?, Kimery Lynch traz sua análise sobre a organização do fandom nas plataformas digitais e a influência do mesmo em movimentos políticos e sociais. Publicado na terceira edição da The Rhizomatic Revolution Review, revista periódica online, um trecho do texto Kimery revela que dentro desses fandoms online, os fãs são integrantes ativos, e acabam muitas vezes se engajando em pautas ativistas antes que a celebridade a mencione.

“Argumento que, a princípio, fãs individuais se engajam em causas políticas como um ativista que por acaso é fã, mas uma vez que o objeto do fandom oferece apoio a uma causa, torna-se possível para fãs, acadêmicos e jornalistas rotulá-lo de fandom ativismo.”

A revista Continente publicou um artigo de opinião escrito por Cecília Almeida, jornalista, professora do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), coordenadora do grupo Obitel-UFPE e integrante do Observatório de Mídia na mesma instituição, no qual reflete sobre “Qual a régua para medir os afetos dos fãs?”. O B-ARMY Newsverse conversou com a jornalista, e ela comentou sobre a temática de fãs ativistas. 

“É algo muito interessante que os fãs, em alguns momentos, mostram que sua capacidade de mobilização, que seu volume de pessoas podem reverberar em outras coisas e não só em benefício de um artista.  Não é algo incomum nesse contexto das novas mídias, já que nas redes sociais a gente vê uma possibilidade de coordenação remota. A gente vê o fã ativista colocando em prática o que já é típico dos fãs desde sempre, que é: a alta capacidade de coordenação, alta capacidade de capilarização, e a alta capacidade de tomar decisões coletivas muito rápido.  É impressionante, do ponto de vista da potência do grupo, no sentido das habilidades que são colocadas em prática”, observa Cecília. 

Army Help The Planet

Em agosto de 2019, B-ARMYSNome que representa os fãs brasileiros do grupo. B (brasileiros) Armys. Cada país tem uma variação, como por exemplo: C (China) ARMYS, K (Korea) ARMYS e etc. se reuniram na intenção de juntar pequenos grupos de fãs do septeto para realizar projetos ambientais, visto que no Brasil estava acontecendo o projeto de reflorestamento da Amazônia.  Em setembro do mesmo ano foi iniciada a campanha ARMY Help The Amazon. Com a arrecadação de quase R$ 9 mil, a ação realizada em parceria com a Iniciativa Verde e o Instituto de Pesquisa IPAM Amazônia conseguiu financiar o plantio de 400 árvores em região de preservação transamazônica. 

A partir daí foi criado um grupo no Whatsapp com especialistas para estruturar a ideia de continuar com as ações, nascendo assim o ARMY Help The Planet (AHTP). O projeto participou ativamente em muitas outras causas, a segunda bastante conhecida foi a ARMY Help The Pantanal, campanha emergencial de combate contra os incêndios que ocorreram em 2020. Com parceria de outras fanbases e do Instituto Homem Pantaneiro, foram arrecadados mais de R$ 52 mil em três semanas, feito que contou com a participação de 1970 fãs. 

Em uma entrevista realizada pelo B-ARMY Newsverse, a equipe do AHTP contou sobre a influência do grupo sul-coreano no movimento. “As ações do BTS como seres humanos e indivíduos através da música sempre refletiram sua realidade, tanto que é possível notar o crescimento deles à medida que passaram por diversas situações até chegarem onde estão. Com essa capacidade de retratar de forma lírica suas experiências com música, no ativismo não seria diferente. As letras de crítica à sociedade que o BTS entrega são notavelmente aspectos de sua experiência direta na sociedade como um ser humano politizado. Artistas influenciam pessoas, isso não é um fato novo, mas a boa influência global do BTS está marcando gerações de uma forma nunca vista antes. O ARMY consegue sentir essa sinergia, e o quão verdadeiros são esses sentimentos e críticas que os membros fazem. Queremos fazer algo com esse sentimento, buscamos por mudanças e tentamos fazer o que está ao nosso alcance”, disse a equipe ARMY Help the Planet. 

A organização do AHTP se dá por 10 departamentos, e a equipe conta com 54 membros ativos, atuando nas mais diversas áreas. “Cada departamento tem de dois a três líderes que organizam sua própria equipe. Além disso, temos um único grupo com todos os membros de todos os departamentos onde surgem ideias, e também interação ou recados entre nós”, resume. 

Ao ser questionado sobre como iniciam as parcerias e suas respectivas campanhas, o grupo argumenta que não existe um padrão para construir as parcerias, e que, na sua maioria, acontece de forma singular.

“O Greenpeace, por exemplo, sempre admiramos muito o trabalho deles. Então, um dia, eles interagiram com nossa postagem; depois chamaram a gente pela DM do Twitter. No caso da Fiocruz, o contato com eles diretamente surgiu através de outra parceria com a equipe do @tdspelasvacinas. O IPAM estava presente no projeto junto com a Instituição Iniciativa Verde que realizamos em 2019. O que é mais incrível é que muitas parcerias foram surgindo de forma orgânica e inesperada.  Com alguns mantemos parceria fixa, com outros, parcerias durante o tempo de campanha”. 

A mais recente iniciativa do AHTP teve como objetivo incentivar jovens de 15 a 17 anos, idade na qual o voto não é obrigatório, a tirar o título de eleitor para as eleições que acontecem em outubro de 2022. A tag da vez foi #TiraOTítuloArmy, visto que o fandom abrange várias faixas etárias. A campanha teve diferentes etapas e se iniciou na transmissão do show do BTS nos cinemas brasileiros, onde foram distribuídos títulos de eleitores ARMYNome oficial dos fãs do BTS, também é conhecido pela mídia ocidental como BTS ARMY.. Entre as fases da campanha também tivemos Thread explicando como tirar o título dentro do tempo previsto, e  projeção em prédios de 7 capitais do país: Porto Alegre (RS), Belém (PA), Brasília (DF), Salvador (BA), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP). 

“Today we vote”, “O voto é seu mas o futuro é nosso”, “Speak for yourself”, “O amanhã continuará vindo e somos jovens demais para desistir” são exemplos de frases usadas na projeção, que foram faladas pelo BTS ou estão presentes em suas músicas. Com toda influência positiva de todos os lados do fandom, o AHTP comenta sobre o feedback positivo que recebem. 

“É muito gratificante ver que o BTS é capaz de mobilizar tantas pessoas para diversas causas. Basicamente nós somos apenas mediadores entre o ARMY e as instituições, então todo o mérito é do ARMY e do BTS. Nós sempre nos dedicamos igualmente em cada campanha, e festejamos quando concluímos um projeto”. 

Acesse aqui a entrevista completa com o ARMY Help The Planet.