ARMYS Acadêmicos:
Quando fãs transformam BTS em tema de pesquisas acadêmicas

Como me tornei ARMY Acadêmica

O universo que diz respeito à fandoms, também conhecido como cultura de fãs ou fan studies, é um tópico que rendeu várias publicações e conta com uma lista extensa de pesquisadores, entre os quais Henry Jenkins, Fiske, Matt Hills. O peso que a expressão “ser fã” carrega é o motivo de a sociedade ainda encarar tais práticas de forma preconceituosa. Partindo do pressuposto de que, anos atrás, as atividades de pessoas que admiravam algo ou alguém já existiam e eram estudadas, com o surgimento da internet, tudo foi tomando uma maior proporção. 

Fazendo referência à era digital, Jenkins (2006) constatou que o novo fã não só consome como também passa a produzir, a fazer críticas, a editar e a contribuir numa sociedade de conhecimento. Sendo assim, não podemos mais resumir tais hábitos à obsessão, histeria e ao comportamento infantil. Essa é uma reportagem na qual lhe convido a expandir sua mente sobre uma das inúmeras habilidades dos fãs do grupo sul-coreano BTS, até porque o ARMYNome oficial dos fãs do BTS, também é conhecido pela mídia ocidental como BTS ARMY. leva isso tão a sério, a ponto atribuir importância aos seus ídolos não apenas no que diz respeito ao lazer, mas os leva para suas vidas acadêmicas.

Gabrielly Guimel, de 25 anos, é jornalista formada pela Universidade Paulista – UNIP, designer e diagramadora. Seu trabalho de conclusão de curso foi um projeto gráfico e editorial de uma revista para o público jovem, inspirada nas fases musicais da boy band sul-coreana BTS, chamada “Youth: A Revista dos Jovens do Futuro”. Ela trabalhava no site de música chamado Minuto Indie do canal do Youtube do mesmo nome, onde  escrevia artigos, notícias, resenhas e cobria festivais de artistas alternativos. Mas ela sentia que precisava de um refresco cultural, e isso aconteceu quando ela conheceu o BTS. 

“Eu conheci o BTS no mesmo ano que comecei a pesquisar sobre os temas do TCC e, como amante da música, o primeiro contato com a pesquisa foi escrevendo primeiramente um artigo e, depois, uma grande reportagem sobre o VMA de 2019, quando a premiação tinha criado uma categoria para K-pop, marginalizando os artistas da indústria da Coreia do Sul.  No início de 2020, dando continuidade a minha grande reportagem sobre o VMA que viria ser do BTS, HallyuTermo faz referência à popularização e à influência da cultura sul-coreana dentro e fora da Ásia. e indústria do Kpop, intitulada “Bangtan Boys: Uma Boyband Incomum”, entendi que deveria fazer um trabalho mais aprofundado sobre o grupo e mostrar um olhar diferente deles dentro do jornalismo”, situa a jornalista musical. 

“A vontade de fazer um TCC revista sempre esteve em meu coração, desde que eu iniciei meu curso. Eu lia muitas, só que tinha um porém: os assuntos tratados muitas das vezes eram superficiais. O jovem tinha um rótulo, uma ideia padronizada sobre a realidade, sobre o que ele deveria ser, como se vestir, como deveria aparentar, o que seria ‘legal’ ele consumir, a representatividade era quase nula. Uma das coisas que eu mais admiro no BTS é como eles conseguiram estabelecer uma linguagem global a respeito da mensagem que eles desejam passar em seus conteúdos. E foi nesse pensamento que eu quis unir e me inspirar nas fases do grupo que tem um direcional a esse tema da juventude – a The Most Beautiful Moment in Life: Young Forever, Wings e Map of the Soul: 7. Dentro disso, tentei construir uma cronologia dentre as fases de entendimento, compreensão e aceitação do jovem e suas auto análises de pertencimento e o seu lugar no mundo”, expõe ela. 

Estudos sobre fãs realizados por fãs ainda é algo novo, principalmente quando as pesquisas são sobre grupos de K-pop. É mais comum encontrar trabalhos sobre artistas ocidentais, como os Beatles, Madonna, Britney Spears e outros, por questões de materiais disponíveis em idiomas que são mais acessíveis. Infelizmente ainda lidamos com a barreira linguística quando, academicamente falando, começamos a procurar elementos que possam nos ajudar na pesquisa sobre K-pop ou sobre a Hallyu waveConhecido no Ocidente como 'onda coreana', o termo faz referência à popularização e à influência da cultura sul-coreana dentro e fora da Ásia.. Quando questionada sobre a importância de ARMYSNome oficial dos fãs do BTS, também é conhecido pela mídia ocidental como BTS ARMY. acadêmicos, grupo no qual ela se enquadra, Gabrielly declara seu entusiasmo. 

“Acho de extrema valia, tem que fazer mesmo, vamos dar a voz e palco a temas que não são ocasionalmente debatidos da forma que deveriam ser debatidos na academia. Ressignificar os tabus rotulados em cima do corpo amarelo e os fãs que consomem a HallyuTermo faz referência à popularização e à influência da cultura sul-coreana dentro e fora da Ásia., BTS ou a cultura leste asiática. A música pop dificilmente era atrelada ao mainstream e ao leste asiático, e graças ao BTS hoje a gente fala que a musicalidade deles alcançou o mundo.”, comentou Gabrielly Guimel.

B-Armys Acadêmicas

Em 2020, um grupo de ARMYSNome oficial dos fãs do BTS, também é conhecido pela mídia ocidental como BTS ARMY. brasileiros criou o projeto chamado B-ArmysNome que representa os fãs brasileiros do grupo. B (brasileiros) Armys. Cada país tem uma variação, como por exemplo: C (China) ARMYS, K (Korea) ARMYS  e etc. Acadêmicas, que reúne universitários apaixonados pelo BTS, com o objetivo de incentivar e apoiar outros fãs acadêmicos em suas pesquisas sobre o boy group sul-coreano. O BAA, como também é conhecido, é uma associação organizada por oito painéis e atualmente conta com 25 membros na equipe, que se dividem nas tarefas de acordo com a área de cada um. O projeto é o primeiro no país que se tornou sólido, quando o assunto são pesquisas que envolvam a HallyuTermo faz referência à popularização e à influência da cultura sul-coreana dentro e fora da Ásia. e o BTS, por justamente trazer publicações, dicas, podcasts e referências bibliográficas que possam ajudar outros pesquisadores. 

“Conversando ali entre os membros no grupo do Whatsapp, foi comentado por uma pessoa a vontade de expandir o projeto de uma forma mais acolhedora. Queríamos muito que as pessoas tivessem contato com esses pesquisadores e também com essas pesquisas da mesma forma que nós estávamos tendo. Então fomos nos juntando. O que começou com 11 pessoas, depois passou a ter 20 e assim fomos juntando nossas ideias e do que a gente sentia falta como pesquisadores”, afirma a secretária executiva do BAA, a jornalista Ana Luíza Gomes.

A  conta do projeto no Twitter sempre menciona os membros e suas pesquisas nas mais diferentes áreas sobre o BTS, em busca de divulgá-las para pessoas que não conhecem o BAA e também na intenção de inspirar outros fãs acadêmicos. Juliana Follador, é arquiteta e idealizadora do projeto, apresentou seu trabalho de conclusão de curso em 2019 sobre arquitetura cenográfica, com proposta voltada para o Map of the soul: Persona; Ana Luíza Barbosa, secretária executiva do BAA, também fez seu TCC sobre o grupo. Em formato de monografia, Ana Luiza realizou um estudo sobre Map of the soul: As linguagens de clipes do grupo sul-coreano BTS

Em uma conversa com Ana Luíza, ela contou que o BAA teve uma boa recepção entre os fãs do BTS. Em junho de 2021, após o reconhecimento nas redes sociais, o grupo de pesquisa divulgou uma coletânea de análises sobre a mixtape D-2, lançada pelo Agust D (Suga). A coletânea se tornou o primeiro produto físico do BAA, que, graças às vendas, acabou ajudando a iniciativa a buscar melhorias no site e criar o CNPJ. 

Após o lançamento da coletânea, o BAA decidiu entrar em pausa para poder planejar de forma mais cuidadosa os próximos passos. Um ano depois, neste segundo semestre de 2022, o projeto está voltando com novidades. Quando perguntada sobre o futuro da associação, Ana Luíza diz que a pretensão é continuar a motivar pesquisas. 

“Podemos esperar que o B-ArmysNome que representa os fãs brasileiros do grupo. B (brasileiros) Armys. Cada país tem uma variação, como por exemplo: C (China) ARMYS, K (Korea) ARMYS  e etc. Acadêmicas vai surpreender com o novo formato, queremos ser um campo de ensino e também queremos que o ARMYNome oficial dos fãs do BTS, também é conhecido pela mídia ocidental como BTS ARMY. se sinta acolhido. A gente tem trabalhado no site para que seja mais acessível, mais fácil de entender, que ele possa levar conteúdo diverso para que várias pessoas possam ter acesso ao que antes não tinham”, diz a jornalista.

Conferência Global de Armys

Mundialmente falando, o fandom do BTS tem bastante pesquisadores, sendo eles de todas as áreas possíveis. Com base nisso, em 2020, mais de 100 pessoas de 30 países viajaram com destino a Londres para participar da BTS: The Global Interdisciplinary Conference. O evento aconteceu durante dois dias na Universidade de Kingston, quando fãs, acadêmicos e pesquisadores se reuniram para aprender e debater sobre o impacto do BTS, conhecido pela academia como fenômeno BTS (do inglês,  BTS phenomenon).

1º edição da Conferência Interdisciplinar do BTS, na Kingston University

Segundo informações divulgadas pelo Bangtan Scholars, a primeira edição da conferência quis destacar estudos de mídia, psicologia, filosofia, antropologia, literatura, linguística, política, relações internacionais, arte performática, teoria da arte, cultura, conscientização sobre saúde mental, identidades, práticas interseccionais: gênero, sexualidade, raça, idade, deficiência, educação, entre outros. O evento contou com três palestras principais e mais 38 painéis de discussões, totalizando, assim, 103 apresentações.  

Luisa do Amaral, de 28 anos, participou do encontro de ARMYSNome oficial dos fãs do BTS, também é conhecido pela mídia ocidental como BTS ARMY. acadêmicos em Londres, onde apresentou o recorte inicial de sua pesquisa sobre a relação do ARMYNome oficial dos fãs do BTS, também é conhecido pela mídia ocidental como BTS ARMY. com o Twitter, considerando a mesma uma rede social ligada à memória afetiva. 

“Quando falamos dos grandes momentos históricos do BTS, a rede social que a gente vai associar é o Twitter: trend topics, votação, reação etc.  Os fãs estão em várias plataformas, e em cada uma delas desenvolvem uma característica própria, que é resultado da história deles nesta plataforma. Eu escolhi apresentar esse recorte inicial da minha visão de que uma grande parte do que o ARMYNome oficial dos fãs do BTS, também é conhecido pela mídia ocidental como BTS ARMY. fez de mais significativo na carreira do BTS aconteceu no Twitter, que também é a rede que eles estão, então existe uma relação afetiva de memória. E por ainda usar o Twitter para se organizar, existe a relação de também manter memoria”, declara Luisa sobre sua apresentação. 

Ao comentar sobre  sua experiência na conferência, Luisa disse que, após passar por um ano difícil, foi como se ela tivesse se lembrado de como é bom ser fã e pesquisadora ao poder ter contato com tantos pesquisadores de outros países. 

“Renovou a minha alegria de ser fã. Se tratou de um momento onde todo mundo estava falando no mesmo nível, tinha espaço para questionamentos, para outras visões, tinha espaço para várias formas de gostar. Então acabou sendo uma experiência de aprendizado muito divertida”, disse a pesquisadora.

Entre os dias 14 e 16 de julho de 2022, acontece a terceira edição da BTS: The Global Interdisciplinary Conference, que terá como palestrantes em um dos painéis o autor de best-sellers e fã declarado do septeto, Paulo Coelho. O escritor carioca aceitou o convite feito pela equipe do evento para debater sobre o impacto do BTS na cultura e na arte. 

De acordo com as informações divulgadas, a palestra de Paulo Coelho será mediada pelo crítico de música que escreve para a edição sul-coreana da revista Rolling Stone, Kim Youngdae. O tema principal dessa edição é “A era pós-pandemia, bem-vindo à nova humanidade”. 

Em uma entrevista exclusiva para o B-ARMY Newsverse, uma das organizadoras do evento e autora do livro BTS: Art Revolution, Dra. Jiyoung Lee, contou o que podemos esperar dessa próxima conferência. 

“Para começar, estamos tentando arquivar todos os materiais que estarão presentes na conferência. Em segundo lugar, estamos considerando ativamente o estabelecimento de uma Sociedade Internacional de Estudos BTS, a fim de realizar a BTS: A Conferência Internacional Global continuamente. Até agora é apenas uma ideia, mas a sociedade é uma organização da qual todos os ARMYsNome oficial dos fãs do BTS, também é conhecido pela mídia ocidental como BTS ARMY. e pesquisadores interessados em estudos BTS podem participar, e pretende desempenhar um papel na assistência a vários países na realização de conferências a cada ano. Não é uma estrutura hierárquica composta por presidentes e diretores, mas, sim, uma reunião descentralizada e flexível, com executivos que são alterados dependendo do país anfitrião da conferência. Em terceiro lugar, a exposição de arte e outros eventos, incluindo o BTS Tour, a festa ARMYNome oficial dos fãs do BTS, também é conhecido pela mídia ocidental como BTS ARMY. pré-conferência e o workshop pré-conferência também serão realizados.”

A entrevista completa com Dra. Jiyoung Lee está disponível aqui.