Existe uma lenda tebana sobre o gigante Anteu, que nos parece conveniente contar neste momento. O Filho de Netuno e de Gaia fez uma promessa a seu pai, de construir com crânios humanos um monumento em sua honra e por isso desafiava para lutar todos que cruzassem seu caminho. Ele, que se sentia invencível, resolveu desafiar Hércules para uma luta. Abatido por três vezes o gigante, cada vez que tocava o chão, se reerguia com muito mais força. Percebendo isso, Hércules levanta Anteu no ar e o estrangula entre seus braços.
Todos nós somos como o gigante Anteu, que precisa estar constantemente em contato com a Terra, com a natureza que nos fortalece, para não corrermos o risco de ser estrangulados pelo racionalismo. Em vários momentos desta jornada nos sentimos abatidas, mas a missão, de dar o toque de alvorada para despertar corações para a Agroecologia precisava de cada um dos envolvidos. Ao final, nos sentimos gratas por sermos porta voz da força do feminino sagrado, que nos trouxe até aqui, unidas, duas mulheres, a contar as histórias da Agroecologia, ciência de aspectos éticos, estéticos e espirituais (segundo especialista Jorge Tavares). Pois, Terra em Transição tem como objetivo fortalecer a agroecologia através da comunicação, outro de seus segmentos. Sim, missão cumprida!
A luta é para sempre, mas só começou e o segredo é nunca deixar que o Hércules do capitalismo nos afaste de nossa mãe, Gaia. Em entrevista, Roberto Mendes e Jorge Tavares afirmam que a crise em que nos encontramos vem desse afastamento. Dessa desconexão que oprime a Mãe Terra, estuprada pelo apetite fordista de destruição, da energia do masculino em desequilíbrio, materializado na forma como a força do capital destrói o meio ambiente. Portanto, a todos que tivemos a oportunidade de conhecer durante a construção do processo, principalmente às mulheres, e que contribuíram com ele de alguma forma, gratidão. Vocês nos vinculam à Terra.
Para quem já tinha um pé de ingazeira no quintal, a partir desse especial, que ele esteja mais firme em seu coração, para que ninguém consiga derrubá-lo. Essa conversa pode parecer idealista demais, só que é preciso fazer entender, também na academia, o que nos relata Davi Fantuzzi, um dos especialistas consultados: “sem feminismo não há agroecologia”. Se todos nós usássemos a sensibilidade, qualidade que se desenvolve a partir do equilíbrio da energia do feminino, entenderíamos que a Terra é a primeira mulher. Ela simboliza a grande mãe, e também aquela que pariu a todos nós desde as primeiras moléculas, há 15 bilhões de anos, com o surgimento do universo.
Portanto, essa foi também uma jornada de imersão nessa energia do feminino. Entender a agroecologia em seu pluralismo e na aparente difusão de causas é que faz dela absolutamente coerente. A agroecologia é qualidade de vida, é lutar por nossos espaços e direitos. Por isso, também é o Ocupe Estelita, é o Ocupe do IFPE Barreiros, é o Ocupe Brasília. É o feminismo, é ir na feira conversar e fazer amizades, é outrocentrismo, é nossas mães e avós, é a ciência aliada aos saberes femininos ancestrais, é um projeto de sociedade. Parafraseando mais uma frase feminista, parece que “a revolução é pela agroecologia ou não é”.