Entrevista Pingue-Pongue com Maria Cecília

por | 26/11/2024

Foto: Paulo Pinheiro

Quem vive nos morros do bairro de Dois Unidos tem uma vivência um pouco diferente das pessoas que vivem próximas à Avenida Hildebrando de Vasconcelos, principal corredor do bairro. Pensando nisso, conversei com Maria Cecília, moradora da Rua João Cavalcanti Petribu, numa parte mais afastada da avenida do distrito. Ela tem 45 anos, é dona de casa, casada com Edson Alves, pessoa com deficiência visual, e com seu filho mais velho, Edson Júnior. Entre os desafios relacionados a saneamento, saúde, transporte e segurança, Cecília descreve as ausências do poder público no bairro e como isso afeta sua rotina.

Como você chegou a Dois Unidos?

Eu vim morar aqui, na verdade, por um incentivo de ter minha casa própria. Então, aqui foi a oportunidade que me surgiu. Porém, a dificuldade é tremenda. Acredito que tem lugares melhores, porque, a partir do momento que você tem uma rua, mas não é asfaltada, tem um posto de saúde próximo da minha casa, mas eu não tenho acesso. Eu mesma tenho que ir lá para a Avenida Beberibe, o posto é muito longe, e também, para mim, o horário é inconveniente para marcação de consulta. Enfim, são muitas coisas que não favorecem nem a mim nem às minhas vizinhas. Se fosse opcional, eu não compraria aqui. Eu só comprei porque a minha renda realmente só podia me contemplar para vir morar aqui.

Quais são as principais dificuldades que você vivencia aqui na Rua João Cavalcanti Petribu?

A rua principal tem muito buraco. Assim, quando fazem um paliativo para ajudar, muitas vezes alguns moradores quebram o asfalto. Porque já chegou gente para ajeitar a rua, e os próprios moradores inconvenientes fazem rego no meio da rua. Tem também a canaleta, porque, quando fizeram o paliativo, fizeram com a canaleta. Porém, tem uns intrusos que quebram o que está sendo feito.

As ruas e travessas aqui da João Cavalcanti Petribu foram beneficiadas por essa obra paliativa que você citou?

Não fizeram as entradas, só a principal. Mas já dava um bom retorno, porque estava entrando Uber. Agora, como não está passando carro, por exemplo, uma viatura da polícia não passa. Lugar afastado, lugar difícil, complicado. Não vem carro de aplicativo, não vem moto, porque ficam com medo, entendeu? Fica difícil o acesso para tudo.

Você comentou sobre a questão da segurança pública aqui na João Cavalcanti e que isso afeta o acesso a serviços como Uber. Isso é frequente?

Na verdade, quando dá um certo horário, eles não querem vir mais, porque, como sempre, a gente mora numa região que está descoberta. Então, está tudo descoberto. E, se não vê a viatura passar, muitas vezes o Uber não quer entrar. Um socorro não entra porque a rua já está toda esburacada. Quem fez o conserto agora, por exemplo, foi um dos moradores.

Aqui próximo tem um posto de saúde, mas você acabou relatando que não recebe atendimento. Por que isso acontece?

Quem mora aqui na parte do alto, no morro, eles dizem que a demanda é grande, entende? Aí eles não atendem. Porém, a gente já precisou fazer um curativo, tomar uma injeção, e eles não aplicam, não fazem curativo, não fazem nada, porque a gente mora aqui em cima. Mas tem pessoas que já entraram na justiça e estão sendo atendidas embaixo, porque tem crianças com anemia falciforme, aí conseguiram na justiça um atendimento médico nesse posto aqui embaixo, o Clube dos Delegados. Como pode um posto próximo da sua casa não lhe atender? A gente tem que se deslocar, e muitas vezes não tem passagem. Porque, às vezes, eu mesma, como meu marido tem baixa visão, acontece de ele não poder ir comigo, ou eu não poder ir com ele. Aí tem que depender totalmente dele. Se não depende de mim, eu preciso ter passagem para poder me deslocar para ir para o médico mais distante. Porque nem toda hora ele pode ir comigo, e isso fica difícil para mim.

A questão do transporte público aqui em Dois Unidos, como você avalia?

Tem algumas linhas de ônibus que demoram. Por exemplo, Afogados é o que mais demora. Os demais, como Prefeitura e Espinheiro, também demoram.

Como você avalia o bairro de Dois Unidos?

Eu gosto de Dois Unidos, mas todo lugar precisa ter segurança, saúde, entendeu? A pessoa tem que ter mais acesso às coisas. Porque, graças a Deus, eu não tenho deficiência, mas eu não sei o futuro. Meu esposo tem, então para mim já é ruim, para ele é pior ainda. A iluminação pública aqui melhorou muito, porque antes não tinha, era bem escuro. Depois que entrou um novo prefeito, realmente foi feita uma mudança. Mas a segurança, para mim, aqui é zero.