Os brechós são uma das opções mais sustentáveis para estar na moda. Nos últimos anos, o aumento significativo das lojas de segunda mão trouxe mais diversidade nos tipos de estabelecimento que vão de desde grandes espaços organizados como lojas de departamento até portinhas escondidas com curadorias a partir de um estilo ou época específicos. Os ambientes e serviços de troca que não envolvem dinheiro, nos quais a roupa é a moeda, também aumentaram.
A compra e venda de produtos usados se enquadra no que se chama de Economia Colaborativa. Segundo um estudo de agosto de 2018 da CNDL/SPC Brasil, 89% dos usuários sentem-se satisfeitos ou muito satisfeitos com as experiências desse tipo de consumo.
Mariana Monteiro (31) é mestre em Design e graduada em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco. Além disso, é idealizadora do Ourela (@sejaourela), que surgiu a partir do seu Trabalho de Conclusão de Curso em Design, inicialmente, em 2016, como troca de roupas e, em 2017, tornando-se brechó. “Não existia nenhuma proposta como a minha no Recife. Vi o nicho e investi”, disse Mariana. O Ourela fica numa casinha verde super charmosa, de número 266, na Rua do Chacon, no Poço da Panela.

Foto: arquivo pessoal/divulgação
Apesar de ser um negócio sustentável, também atende quem gosta de moda e não quer gastar tanto, principalmente nos tempos de crise. “Meu maior desafio é me comunicar com o cliente de forma que ele entenda que o objetivo é a sustentabilidade”, explica. “Além disso, outros desafios são equilibrar as compras de roupas – já que o Ourela não é de consignação – e o estoque e os bazares são essenciais para as peças saírem mais rápido”, complementa.
Luis Henrique Bizerra (23) é estudante de Jornalismo e começou a se interessar por brechós através dos amigos que já visitavam os pontos de compras. Depois de muito adiar, por estar satisfeito com que o fast fashion oferecia, passou a se autoconhecer e deu uma chance para os brechós. A partir dali ele, entendeu que gostava de vários estilos. “Me apaixonei de primeira. Os brechós tinham várias roupas e de vários estilos que estava me aventurando, além de oferecerem um preço excelente. Eles foram, de fato, o que me atraíram inicialmente”, disse.
Quanto mais consumo de brechó e bazar, mais vejo quanto o fast fashion é exacerbado na produção de matéria prima. Indo contra esse conceito, quanto mais usamos peças que já foram usadas de outras pessoas, no futuro ainda podemos passar para outras e ainda fazer as peças circularem. Na minha opinião, além de a roupa trazer consigo uma história, traz também uma carga de consciência de que estamos colaborando para a não contribuição da degradação ambiental.
Luis Henrique Bizerra
Fotos: arquivo pessoal/divulgação
Diante da pandemia do novo coronavírus, em abril de 2020, Juliane Guimarães (30) se viu em um cenário com poucas oportunidades de emprego. Formada em Logística e Administração e atualmente cursando Direito, recebeu uma proposta para morar em Portugal e, com isso, surgiu a necessidade de desapegar, pois não tinha como viajar com tudo o que possuía. Começou o desapego pelo armário. Roupas e acessórios foram publicados em seu brechó virtual no Instagram, o @closetdajju.
Moradora da cidade de Vitória de Santo Antão, Juliane já era cliente de alguns brechós na capital pernambucana e resolveu contactar donas de brechós, de quem recebeu muitas dicas. Juliane adaptou o que ouviu à sua realidade de iniciante, sem fazer muito investimento. “As pessoas foram aderindo bem e as respostas vieram muito rápido. As perguntas sobre variedades de peças e de numeração eram tantas que senti que daria certo montar o brechó”, afirma. “Percebi que a fronteira não ia abrir tão cedo e que não conseguiria viajar mais esse ano. Precisei segurar o negócio para não ter que correr atrás de outra renda até viajar”, informa.

Foto: acervo pessoal/divulgação
O brechó surgiu para Juliane também como terapia. Em um momento caótico no qual muitas pessoas sentiam-se “presas” e sozinhas em casa, Juliane reinventou e foi no brechó que encontrou a saída. “Passei a conhecer e a me interessar mais pela história da moda, a buscar referências, a me importar e a perceber que tenho ajudado de forma ativa o meio ambiente, além de obter a minha renda através dele”, disse.
No mapa abaixo você pode encontrar alguns brechós da Região Metropolitana do Recife. Confira:
Bora empreender?
O que fazer para começar um brechó?
Se você quer empreender no ramo dos negócios sustentáveis, especificamente um brechó, algumas dicas são primordiais. Verônica Ribeiro, gestora de Moda do Sebrae PE, explica pontos super importantes que devem ser preestabelecidos no processo.
– Planejar é realmente importante?
Planejamento é a palavra de ordem para iniciar um negócio e uma ferramenta importante é o Business Model Canvas, mapa visual com nove blocos que permite desenvolver e idealizar modelos de negócios novos ou existentes. Mais do que ajudar a tirar a ideia do papel, o Canvas também é útil para analisar e organizar os processos do negócio para uma tomada de decisão.
Confira alguns modelos:
- https://www.siteware.com.br/metodologias/modelo-canvas/
- https://analistamodelosdenegocios.com.br/modelo-plataforma-multilateral/
- https://www.dicionariofinanceiro.com/business-model-canvas/
- https://www.heflo.com/pt-br/gerenciar-negocios/modelo-de-negocio-canvas-lean-startup/
– Quais são as dicas primordiais para quem quer empreender?
- Ter conhecimento do mercado que se pretende atuar;
- Ter identificação com o negócio (gostar do que faz);
- Realizar uma consultoria de viabilidade técnica e econômico-financeira;
- Validar seu Modelo de Negócio;
- Formalizar-se no momento certo;
- Ter um Plano de Negócio definido para curto, médio e, se possível, longo prazos.
– Quais os principais pontos a se considerar quando falamos sobre a localização de um brechó?
Mais importante do que a localização é a escolha dos canais de comercialização. Pode ter loja física, virtual ou comercialização por rede social, por exemplo. É muito importante saber quem é o cliente . Escolher o segmento que o brechó vai atender: feminino, masculino, infantil ou um público misto. Identificar também o tipo de público: popular ou mais exigente quanto às marcas. Essas questões são fundamentais para a escolha do local onde será instalado o ponto de venda.
Na escolha do ponto comercial, é importante levar em consideração aspectos como: hábitos de consumo do público que se deseja atingir, a concorrência, a proximidade de sua residência, se permite fácil estacionamento, segurança, fluxo de pessoas, dentre outros.
– Quais os custos estimados para abrir um brechó?
É preciso considerar os custos fixos: aluguel (se optar por loja física), condomínio (se for o caso), funcionários etc. Os custos variáveis: água, luz, telefone, internet, etc. Além de investimentos com reformas, móveis, araras, produtos a serem comercializados etc. Considerando que deve-se ter um capital inicial para fazer o negócio funcionar.
– Qual o impacto dos brechós na economia local?
O crescimento do comércio de brechós nos últimos anos deve-se, não somente pela oportunidade de comprar um bom produto por um valor muito mais acessível, mas também pelo crescente interesse por práticas sustentáveis e de pós-consumo. Este cenário de oportunidades chama a atenção de quem quer empreender neste nicho de mercado e dos atuais empresários que desejam manter sua empresa sustentável e competitiva (Cartilha SEBRAE).
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