Jornalismo e Marketing Digital: caminhos que se cruzam

No Brasil, o jornalismo teve sua primeira aparição através de um diário oficial no ano de 59 a.C. O Acta Diurna (Atos do Dia) nasceu por determinação do imperador romano Júlio César. O objetivo foi para que houvesse a produção e exposição em local público de uma folha diária com os acontecimentos do dia, entre eles, casamentos, acordos, a entrada em vigor de novas leis, etc. Dessa forma, todos da sociedade estariam informados sobre os fatos diários e, assim, nasce a primeira atividade jornalística de apuração e propagação de informações.

Em 1430, o alemão Johannes Gutenberg inventou a prensa, o que contribuiu com a produção em escala industrial de livros. Através de um molde com tinta ou prensa, era possível imprimir diversas cópias de um texto em poucas horas. Em 1808, com a vinda da família real portuguesa ao Brasil, mudanças começaram a surgir. Em 1º de junho de 1808, teve início a circulação do primeiro periódico do Brasil, o Correio Braziliense. No mesmo ano, em 10 de setembro, circulou pela primeira vez em território nacional o jornal impresso Gazeta do Rio de Janeiro.

No dia 6 de abril de 1919, a primeira rádio foi fundada no Brasil. A Rádio Clube de Pernambuco chegou pelas mãos do radiotelegrafista Antônio Joaquim Pereira, no Recife. Em 18 de setembro de 1950, Assis Chateaubriand fundou a primeira emissora de televisão no país, a TV Tupi de São Paulo. No fim do século, a década de 1990 ficou marcada na história das redações. A partir dali, as máquinas de escrever foram substituídas pelos computadores, deixando os jornalistas surpresos com o desafio de adentrar o universo digital, que substituiu a tecnologia analógica paulatinamente. Inaugura-se a era digital nas rotinas de produção jornalísticas.

Com o surgimento das novas tecnologias, o jornalismo teve que se reinventar e se adaptar às novas condições de trabalho que surgiram ao longo do tempo, o que podemos denominar de uma nova era jornalística, tanto para as empresas quanto para os profissionais. Apesar das mudanças, os princípios básicos do jornalismo não mudaram. O compromisso ético é a base para todo jornalista, segundo está contido no Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, Art. 3º. Sobre essa definição de ética jornalística, a doutora em Comunicação Aline Grego, professora do curso de Jornalismo da Unicap, destaca. “O compromisso ético do jornalismo é o de levar informação de qualidade, credibilidade, e de forma honesta e segura, mas, sobretudo, levando em consideração a relevância e o papel social que esse profissional tem com a sociedade”, afirma.

“O jornalismo é uma atividade que está relacionada à busca e verificação de informações de interesse público de relevância para o público mais amplo. Tem como função oferecer e trazer para essa população as informações para que as pessoas possam conviver em sociedade e tomar suas decisões”.

Cecília Almeida, jornalista e professora de comunicação social da UFPE, doutora em Comunicação.

Segundo a pesquisa TIC Domicílios 2020 promovida pelo Comitê Gestor da Internet do Brasil e lançada em 2021, o Brasil possui 152 milhões de usuários de internet, o que corresponde a 81% da população do país. A partir do aumento de pessoas conectadas, a comunicação sofre um impacto na forma de receber as informações, que, agora, saem do físico e passam a estar mais no ambiente digital.

O professor Lula Pinto, coordenador do Mestrado em Indústrias Criativas da Unicap, explica como o público passou a receber os conteúdos jornalísticos. “A midiatização do jornalismo é um processo pautado, definido e realizado por algumas tecnologias midiáticas específicas e isso é um efeito das coisas que acontecem na sociedade”, afirma Lula.

A pandemia fez crescer ainda mais essa presença do público nesse mundo digital. Prova disso, foi o salto no acesso às redes sociais e ao ambiente online, em 2021,  de 40% para 63%, segundo dados do Digital News Report, da Agência Reuters.  Com esse crescimento, o jornalismo está, cada vez mais, em busca de garantir seu trabalho de entregar informações. Assim, a convergência entre o jornalismo e o marketing digital se torna cada vez mais um caminho a seguir no campo da comunicação.

Lula Pinto, coordenador do Mestrado
em Indústrias Criativas da Unicap

O ponto de partida para as novas possibilidades

O Marketing Digital é um conjunto de estratégias de comunicação, marketing e publicidade, aplicadas a Internet, a partir do comportamento do consumidor quando está navegando. Não se trata apenas de uma ação, mas de um conjunto de feitos que criam um contato da sua empresa/marca com seus clientes, o que possibilita o conhecimento do negócio e, posteriormente, a decisão de compra.

O termo foi usado pela primeira vez na década de 1990 com o desenvolvimento da plataforma WEB1.0. É neste período que surgem os blogs, e-mails, buscadores e o interesse das empresas em dar os primeiros passos na área e investir em links patrocinados. Assim, o marketing se expandiu no mercado, fazendo com que áreas como o jornalismo se interessasse pelo trabalho e encaixasse seus conhecimentos no ramo. 

Dessa forma, ocorreu a convergência entre as duas profissões. Isso impactou positivamente o mercado do jornalista e aumentou as possibilidades de trabalho. Para os jornalistas, e estudantes da graduação, novas formas de trabalho surgiram como a de social media, web design, analista de redes sociais. Muitos foram atuar com a experiência do usuário, o marketing de conteúdo e a gestão de mídias sociais, entre outras possibilidades que foram surgindo.

A professora Aline Grego acredita que, ao mesmo tempo em que cria nossas possibilidades, o marketing digital também traz desafios para os jornalistas. Para ela, hoje em dia, é preciso entender todos os dados e informações que estão presentes no jornalismo digital para conseguir fazer uma apuração correta. “A formação do jornalista, sobretudo de quem está na universidade, é entender que não basta mais só dominar o texto, a imagem e o som. Vai precisar dominar e saber lidar com essa quantidade enorme de dados e informações e saber minerar as informações. E, ao selecionar essas informações, saber, através da sua capacidade de investigação, de comprometimento, de apuração, analisar, dentro daquele mundo de dados e informações, o que procede e o que vale a pena ser divulgado e confrontado”, aponta.

Para muitos profissionais da área, o jornalismo está em fase de adaptação ao universo do marketing digital. Um tempo de descobertas e construção de novos campos profissionais. Um caminho que alguns estão trilhando, abrindo espaços em empresas de comunicação e ampliando os espaços de atuação.

Aline Grego, professora do curso
de Jornalismo da Unicap