Sobre
Desde quando a memória me alcança, tive contato com os livros. Ainda criança, lembro de passar horas na biblioteca pública da minha cidade, Bom Conselho, no interior de Pernambuco. Naquele tempo, tudo era mais difícil, inclusive o acesso aos livros. Mas, aos poucos, fui colecionando títulos, com o apoio de meus pais.
Migrando de gêneros de acordo com a idade, percebi algumas ausências, e tomei como referências os nomes masculinos. No entanto, o desejo de retomar a nossa própria narrativa no cenário brasileiro e no universo literário falou mais alto.
Quando cheguei ao Ensino Médio, reparei que não havia lido nenhuma escritora feminina para o vestibular. Olhei para a minha estante e vi um apanhado de autores homens – cada qual com a sua importância, é claro; mas esse sentimento de sumiço da literatura feminina permaneceu inquietante em mim.
Até onde posso perceber, no Brasil ainda são poucos os estudos que se debruçam sobre essa temática, o que ocasiona a perda de memórias de importantes vozes. Por isso, resgatar essas histórias reafirma a minha, a nossa presença, de alguma maneira.
Este Trabalho de Conclusão de Curso em formato de website surgiu a partir dessas memórias, desses desconfortos e do desejo de colaborar, de alguma forma, para a visibilidade das mulheres, em especial, das mulheres escritoras.
E por que apenas mulheres?
Na introdução ao seu livro Nós, mulheres, a escritora espanhola Rosa Montero responde a pergunta acima: “Justamente por essa sensação, de abrir as águas quietas e extrair lá de baixo um monte de surpreendentes criaturas abissais. Além disso, ao ler biografias e diários de mulheres, descobrimos perspectivas sociais inimagináveis, como se a vida real, a vida de cada dia, tivesse seguido outros roteiros que não os da vida oficial. Portanto, meu intento foi uma visão própria daquela espécie de olhar tão especial com que às vezes (numa noite antes de dormir, num entardecer enquanto dirigimos de volta para casa) precisamos vislumbrar, por um instante, a substância mesma do viver, o coração do caos”.
Dessa forma, fui atrás de reconstruir essa história, trazendo as escritoras brasileiras como protagonistas dos períodos vivenciados; unindo, ao mesmo tempo, a minha experiência como leitora e os aprendizados do curso de Jornalismo.
Foi uma emocionante aventura de reconhecimento da minha ancestralidade e das rupturas feitas para que pudéssemos avançar nesse campo. Espero, em um futuro próximo, que as estantes fiquem abarrotadas de títulos femininos, que transmitem potencialidade, reconhecimento e revolução.

Maria Clara Monteiro
Jornalista