O fim da Comunidade Cacique Chicão (ângulo 1)
Cento e quarenta e três famílias foram despejadas de suas residências no dia 28 de maio de 2015, no bairro do Ibura, Zona Oeste do Recife. Os barracos, erguidos irregularmente em um terreno de 800m² pertencente à União Federal, faziam parte da Comunidade Cacique Chicão, iniciada cerca de três anos antes. Os moradores foram despejados forçadamente por 351 policiais – militares e federais – e tiveram suas casas destruídas por um trator. Houve conflito.
Parte das famílias, sem ter outra alternativa de moradia ou sequer um local para passar a noite, dormiu junto ao muro que antes escorava as suas casas. Dessa vez, do lado de fora. No dia seguinte, eles protestaram contra a falta de políticas públicas que lhes garantisse um teto após a reintegração. “Não tenho alternativa de moradia. Antes de vir para cá, dormia no Hospital das Clínicas”, contou um dos ex-moradores, José Mariano da Silva, 50.
Em audiência de conciliação realizada no dia 6 de abril com os moradores da comunidade e os proprietários do terreno, a secretária executiva de Habitação do Recife, Renata Lucena, afirmou que o auxílio-moradia não poderia ser garantido, já que a lista de pessoas beneficiadas estava ‘inchada’. Também não havia moradias populares para alocá-los.
O mandado de despejo foi expedido pela juíza da 12ª vara Federal, Joana Carolina Lins. De acordo com ela, a desocupação foi necessária pela proximidade da comunidade com o Aeroporto Internacional do Recife – Gilberto Freyre. “O autor do processo e dono do terreno é a União Federal, mas a Infraero entrou como assistente no caso por entender que a presença da comunidade pode influenciar na segurança dos vôos operados no aeroporto”, explicou a juíza.
Desocupação gera confronto entre polícia e moradores (ângulo 2)
Os moradores da comunidade Cacique Chicão, localizada no bairro do Ibura, Zona Oeste do Recife, acordaram no dia 28 de maio de 2015 cercados por 319 policiais militares e 32 federais que exigiam a desocupação do terreno em que moravam. Sem alternativa de habitação, parte dos residentes resistiu e tocou fogo em pneus e entulhos na entrada principal do lote, na Avenida Recife. A polícia forçou a entrada no local e foi recebida com pedradas. Em troca, os manifestantes ganharam balas de borracha e truculência do batalhão de choque da PM.
Duas pessoas foram detidas, levadas até a Central de Flagrantes, no bairro de Campo Grande, na Zona Norte, e liberadas em seguida. Segundo o major Júlio Aragão, assessor de imprensa da Polícia Militar, houve uma catalogação de quem resistiu à ação de alguma forma. Depois que os barracos foram desocupados, os moradores do Cacique Chicão voltaram a protestar na Avenida Recife. Devido ao cumprimento da reintegração de posse, a via ficou interditada por todo o período da manhã e os estabelecimentos comerciais da área não funcionaram por orientação dada pela polícia no dia anterior.
Reintegração de posse complica trânsito na Zona Oeste do Recife (ângulo 3)
O trânsito ficou bloqueado na Avenida Recife no bairro do Ibura, Zona Oeste do Recife, durante toda a manhã do dia 28 de maio deste ano, devido ao cumprimento da reintegração de posse de um terreno localizado entre a via e o Aeroporto Internacional do Recife – Gilberto Freyre. Com a interdição do trecho entre a Avenida Senador Robert Kennedy e a Rua Pinto Antônio de Albuquerque, houve congestionamento nas áreas próximas.
Os condutores que fizeram o percurso em direção ao bairro de Boa Viagem tiveram que seguir um desvio na entrada do Ibura e fazer um retorno para cruzar a Avenida Recife e continuar o caminho pelo bairro do Ipsep. Já quem vinha de Boa Viagem pela Avenida Recife, precisou desviar até uma via paralela, a Rua Rio Amazonas, antes de retornar à rota original.
O drama vivido pelas famílias que não têm onde morar (ângulo 4)
O vendedor de cocadas Sebastião de Castro, 25, passou a noite do dia 28 de maio de 2015 na rua com a mulher e a filha de dois anos. Mais precisamente na Avenida Recife, no Ibura, Zona Oeste do Recife. Em torno da pequena família, as telhas de amianto que Sebastião conseguiu salvar do barraco recém destruído por ordem da 12ª Vara Federal. Durante o dia, foi cumprido o mandado de desocupação da comunidade em que eles viviam, a Cacique Chicão.
Desde que ficou desempregado, há três anos, o ambulante morava na comunidade, erguida sob solo pertencente à União Federal, junto ao muro do Aeroporto Internacional do Recife – Gilberto Freyre. Não conseguia pagar o aluguel e comprar os mantimentos da família. Por isso, decidiu se estabelecer no local, onde fazia diariamente o doce que vendia na vizinhança. “Se eu pago aluguel não consigo comprar os remédios da minha filha. Ela estava desnutrida quando viemos para cá. É a escolha que qualquer pai faria. Ninguém mora na favela porque quer, não temos outro local para ir”, contou.
Deixe uma resposta