A união que fez a busca

Durante um dia a dona de casa Maria das Neves procurou sua filha, a estudante Cassiane Kalline, de 21 anos, pela cidade do Recife. A garota, que teve um surto devido a seu diagnóstico de esquizofrenia, havia saído de casa, como de costume, mas dessa vez não retornou logo em seguida. Sua mãe, no entanto, não estava sozinha durante o período de busca.

Junto com a avó, irmãos, tios, tias, primos e amigos de Cassiane, Maria das Neves percorreu cada canto da cidade espalhando cartazes, realizando patrulhas e, graças à operação montada de maneira familiar, Cassiane foi encontrada rapidamente.

Tudo começou no início da tarde do dia 3 de março de 2013. Cassiane Kalline acordou por volta das 13h disposta a ir até a praia. Preocupada, sua mãe discordou da ideia, mas como sua filha sempre foi independente, apesar do transtorno que sofre, logo teve que aceitar o pedido. E o que seria um dia normal, ficou marcado na história da família.

Devido à demora do retorno da filha, que apenas teria ido à praia, Maria das Neves começou a ficar preocupada. Já era quase noite quando a mãe da jovem entrou em contato com seus parentes para relatar possível sumiço de Cassiane. Mas, foi na segunda, dia 4, que a possibilidade parecia estar se tornando cada vez mais sólida: Cassiane estava desaparecida.

Segundo a tia de Cassiane, Wilma Viana, de 58 anos, o primeiro passo foi notificar o desaparecimento à polícia e fazer um Boletim de Ocorrência (B.O). “Depois disso, não nos acomodamos. Organizamos uma busca dividida em duplas. Fomos orientados pela polícia para buscá-la em lugares que ela costumava visitar”, complementa Wilma.

Medo do reencontro
Ainda sem notícias da garota, a família decidiu seguir por um caminho mais difícil, procurar em locais onde não gostariam de encontrá-la. Inicialmente, visitaram o Hospital da Restauração (HR), procurando notícias de Cassiane. Em seguida, visitaram o Instituto Médico Legal (IML).

Procurar por um ente nestes lugares foi o momento mais crítico da busca, segundo sua prima, a estudante Iris Viana. “Encontrá-la nestes lugares significaria que ela estava machucada ou doente”, explica. Ir até o IML foi uma tarefa igualmente difícil. “Pensar que ela poderia estar morta era impossível para nós”, complementa a estudante.

Encontro inesperado
Nessa mistura de sentimentos, o medo se sobressaia pelo fato da doença inibir a mente deixando Cassiane completamente à mercê de pessoas desconhecidas e da violência da cidade. Ela, que não aceitava ser portadora do transtorno, se recusava a tomar a medicação controlada diária, chegando a ficar oito meses sem ingerir os remédios.

Ainda na noite da segunda, a mãe de Cassiane voltava exausta para casa junto com um tio. O caminho era feito de metrô, afinal, a família reside perto da estação Coqueiral. Mas, foi na estação Joana Bezerra que Maria das Neves avistou a filha, que andava pela localidade com uma roupa diferente da que havia saído de casa.

O paradeiro da Cassiane durante as quase 24 horas de desaparecimento não foi descoberto. “Não sabemos para onde ela foi porque ela também não sabe. Não sabemos se isso é verdade, com quem ela esteve ou onde trocou de roupa. Para ela, tudo foi apenas um passeio normal”, lembra sua irmã, Cleviane das Neves, de 30 anos.

Decisões
A família de Cassiane não esperou nenhum momento para começar a procurá-la. Além de se dividirem em grupos, eles elegeram uma pessoa para ficar em casa, caso alguém recebesse notícias da garota. Outra atividade realizada em conjunto foi a distribuição de cartazes pela cidade, principalmente em pontos onde Cassiane costuma frequentar ou em locais onde existe uma grande circulação de pessoas como a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), por exemplo. Fotos de Cassiane também foram distribuídas entre os policiais que realizam a Patrulha do Bairro.

Esquizofrenia
O transtorno metal pode atingir qualquer pessoa em varias idades e é caracterizado principalmente pela alteração no contato com a realidade. Geralmente, as pessoas que possuem esquizofrenia apresentam, durante os surtos, alucinações visuais, sinestésicas ou auditivas, delírios, fala incompreensível e sintomas depressivos.

O tratamento pode ser feito de duas formas, por meio de ingestão de medicamentos, como é o caso de Cassiane. Ou tratamentos terapêuticos e psicológicos que fazem o uso da terapia ocupacional.

Os neurolépticos são medicamentos que combatem a psicose, indicados no tratamento da esquizofrenia. Segundo a psiquiatra Chintia Moraes, apesar dos efeitos colaterais que tais substâncias causam no organismo, é altamente recomendável seguir o tratamento prescrito pelo profissional que analisa o paciente com o diagnóstico da disfunção. “São estes medicamentos que vão agir nos neurônios, bloqueando receptores de dopamina e impedindo que o excesso da substância, alteração química mais comum na doença, continue provocando os sintomas positivos e as alterações de comportamento”, explica a especialista.

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