Caso Álvaro: uma história ainda sem final

Álvaro era um garoto alegre e brincalhão. Na manhã daquela sexta-feira, dia 5 de novembro de 2004, ele, por não ter quem o levasse para a escola, pediu à avó materna para brincar no quintal da Rua Planaltina, bairro da Bomba do Hemetério. Esta foi a última vez que um familiar viu o menino, carinhosamente chamado de Alvinho, que na época tinha sete anos. Até hoje, oito anos após o incidente, a família da criança convive com a dor de não poder brincar novamente com ele.

Sem desfecho, a história do garoto Álvaro Ferreira de Lima segue às escuras. Sua tia, Maria Betânia Ferreira de Lima, auxiliar administrativa, de 38 anos, é a única familiar que continua a busca sem perder as esperanças, apesar do tempo que insiste em fazê-la desistir. “Hoje, continuo ligando para a delegacia responsável e a resposta que tenho é que o caso está arquivado”, conta.

Ela, inclusive, assumiu as rédeas das buscas devido à falta de informação da polícia. Reportagens de jornais, panfletos e cartazes se espalharam pela mesa enquanto Maria Betânia conversava sobre o caso. “Houve muita mobilização na época. Alugamos carros de som para anunciar o sumiço, espalhamos cartazes e conversamos com toda vizinhança. Se ele estivesse pela redondeza, com certeza, teríamos o encontrado”, complementa Maria, apontando para seu arquivo pessoal.

O desaparecimento do garoto também mudou toda a estrutura familiar que o envolvia. Sua mãe, a dona de casa Elizabete Ferreira de Lima, de 33 anos, não costuma falar sobre o assunto. Quando o caso de Álvaro é citado, ela logo perde as palavras. Já a avó do garoto, com 75 anos, sofre de Alzheimer. Para Maria Betânia, o incidente teve grande influência no diagnóstico de sua mãe. Ironicamente, enquanto estava lúcida, a avó do garoto dizia que iria morrer sem vê-lo novamente. Hoje, por capricho do destino, se o jovem retornasse, ela não o reconheceria.

“Desde então ela já teve quatro AVCs. Ela cuidava muito dele, era carinhosa como uma mãe. Hoje, diz que não vai mais cuidar do filho de ninguém, está muito debilitada e acredito que tudo por causa do sumiço de Alvinho”, desabafa emocionada.

Em busca do pezinho
Na época do desaparecimento diversas hipóteses foram levantadas por vizinhos, amigos e familiares. Homicídio e sequestro eram as mais comentadas, mas nenhuma destas teorias se relevou consistente. Maria Betânia lembra com clareza quando foi chamada ao Instituto Médico Legal (IML) para reconhecer um garoto que, até então, seria Alvinho.

“Ele tem um defeito no pé herdado da mãe. O corpo que eu teria que reconhecer estava um pouco desfigurado, mas olhei para o pé da criança e ele não possuía o defeito que Álvaro tinha, com isso, descartei a possibilidade”.

Segundo Maria Betânia, o medo de encontrá-lo sem vida logo foi substituído novamente pela angústia que a persegue. “Quando enterramos um ente querido, sabemos que a pessoa morreu. E quando ela desaparece? É uma angústia terrível. Você não descansa, é uma eternidade carregada dentro de si”.

Especulações
Quando questionada se reconheceria o jovem, que agora teria 15 anos, ela é categórica. “Com certeza. Ele era muito bonito, puxou a avó materna. Imagino que agora esteja alto também”, complementa. Ela, por diversas vezes, pensou ter encontrado o rosto de Álvaro em garotos de rua.

“Uma vez estava em um ônibus na Avenida Beberibe e vi um garoto que cheirava cola subindo pela porta de trás. Achei que era Alvinho e segui o menino até o mercado de Água Fria. Quando o abordei, ele pediu uma esmola. Foi aí que olhei para seus pés e não vi o defeito característico do meu sobrinho. Então, tive a certeza que não era ele”.

Apesar do tempo e das expectativas que nunca foram confirmadas, a tia do garoto segue esperançosa. Ela, inclusive, consegue imaginar o dia do reencontro. “Vou dar muitos beijos nele e mostrar todas as matérias e cartazes que guardei para provar que nunca o esqueci. E, finalmente, vou poder dormir tranquila e superar esta angústia”, complementa Maria.

E assim, como tantas outras tias, avós, mães e pais, Maria Betânia Ferreira segue à procura de seu sobrinho. O conselho que ela dá pode parecer clichê mas, ainda é o único que sustenta a procura. “Posso aconselhá-los a não perder as esperanças, rezar muito e, apesar de tudo, continuar vivendo, sempre esperando que a boa notícia, enfim, chegue até nós”, sugere.

Polícia ausente
Logo na época do desaparecimento do jovem Álvaro, a família recorreu a Gerência de Polícia Criança e do Adolescente (GPCA) para relatar o caso. Lá, como de praxe, foi feito o Boletim de Ocorrência (B.O) e o cadastro do garoto no Portal Desaparecidos, mantido pelo Ministério da Justiça. Contudo, os familiares do garoto têm motivos para criticar a ação da polícia.

O Portal, que deveria auxiliar famílias a encontrarem seus entes, é desatualizado. No caso de Álvaro, alguns dados de seu cadastro estavam errados. “Mandamos arrumar, mas a gente percebe que a ferramenta não é divulgada”, explica Maria Bethânia.

Hoje, quando faz uma ligação para saber do andamento do caso, ela é informada de que ele está arquivado, pois o órgão precisa focar em histórias mais recentes. “Não recebemos atenção da polícia. É muito desestimulador”, finaliza.

 

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