Busca por conta própria

Quem mora na cidade de Caruaru, no Agreste pernambucano, ou já comemorou o São João na Capital do Forró, deve ter ouvido falar do cantor Azulão. Francisco Bezerra de Lima, seu nome de batismo, de 70 anos, é reconhecido sempre que passeia pelas ruas da cidade. Simpático, o artista é lembrado por possuir uma “estatura miúda e um vozeirão”.

Em outubro do ano passado a imagem do cantor foi estampada nos principais noticiários do Estado. Mas, dessa vez, ele não estava sendo lembrado pelas famosas canções “A Blusa Dela” ou “Eu Não Socorro Não”. Azulão estava desaparecido, se tornando uma estatística dentre tantas já registradas em Pernambuco.

Tudo começou no domingo, dia 14 de outubro de 2012. Alexandre Bezerra de Lima, o Azulinho, filho do cantor, recebeu uma ligação de um colega da família que afirmava ter avistado Azulão perto da casa de um compositor local com uma mala na mão. Descrente da informação, Azulinho foi verificar se o pai, que mora sozinho, estava em casa. Quando chegou à residência, tudo que encontrou foram janelas abertas e nenhum sinal de Azulão.

Para o filho, seu pai voltaria logo em seguida, como de costume. A possibilidade do desaparecimento, até então, era apenas uma ideia longe dos pensamentos dele. “A ficha só caiu na segunda. Foi quando fui até a delegacia registrar uma ocorrência. Informaram que precisariam de uma pista para começar as buscas, pois não colocariam a disposição viaturas para seguir a procura sem ter uma noção do paradeiro do meu pai”, explica Azulinho.

Sem respostas sobre onde Azulão poderia estar, seu filho decidiu recorrer a outras formas de encontrar o pai. Foi através da imprensa e redes sociais que encontrou uma maneira de tornar a busca mais efetiva. “A partir disso, as pessoas começaram a me ligar. Recebi uma ligação dizendo que ele tinha sido visto na rodoviária da cidade, mas quando fui ao local abordar as pessoas, ninguém me dava informações sólidas. A pista que seguimos foi que ele tinha sido visto na rodoviária”, conta
 
Cidade vizinha
Segundo Azulinho, quando foi até a rodoviária e não encontrou o pai, ficou ainda mais apreensivo. Foi quando na quarta-feira recebeu uma ligação vinda de Bezerros, cidade localizada a 30 km de Caruaru, informando que ele tinha sido visto na localidade e, inclusive, havia tirado fotos com fãs e conversado com alguns deles. “No mesmo momento fui para Bezerros. Chegando lá, confirmamos que ele tinha pegado um ônibus em direção ao Recife. Mesmo sem dinheiro, ele conseguiu chegar até lá graças a sua fama, por onde passa Azulão não paga contas, é tudo cortesia”, complementa Azulinho.

Neste momento, a família já contabilizava quatro dias de desaparecimento. “Ficamos muito preocupados. Sempre tivemos muito cuidado com ele, pois ele toma remédios controlados, devido ao seu transtorno bipolar, foi uma aflição”, declarou o filho. No Recife, os familiares realizaram buscas na Avenida Conde da Boa Vista, no Recife Antigo, tudo por conta própria. “As pistas eram muitas, mas nada concreto. Então, voltamos para Caruaru, já estávamos exaustos”, lembra.
 
O telefonema
Em Caruaru, às 3h da quarta, dia 17, Azulinho recebeu uma ligação que o faria reencontrar seu pai. “Era uma dona de lanchonete no Recife informando que Azulão estava com ela, mas que se identificava como irmão do cantor”, disse. Por ter visto a reportagem na TV com número de contato caso Azulão fosse visto, a proprietária do estabelecimento ligou. “Eu, já exausto, disse para ela que esperava que a ligação não se tratasse de um trote. Apesar de não ter acreditado muito, não tive escolhas, fui verificar se meu pai estava realmente com ela”, frisa Azulinho.

Os trotes, inclusive, não foram poucos durante a busca. Segundo Azulinho, muitos ligavam afirmando que seu pai estava em São Caetano. Outros davam pistas falsas, o que desestimulava cada vez mais a família na procura. “As informações eram desencontradas. Segundo as falsas ligações, ele já tinha chegado a Santa Cruz do Capibaribe”, conta.

Desconfiado, Azulinho recebeu novamente a ligação da mulher que afirmava estar com seu pai. Ela garantiu que não estava mentindo, que Azulão estava há mais de 24h em seu estabelecimento, localizado no Bairro de Afogados, Zona Oeste do Recife. Astuta, a mulher aproximou o telefone de Azulão e, com isso, seu filho pode ouvir sua risada característica. “É meu pai. Afirmei ao telefone. Pedi para que a mulher o mantivesse distraído e segui para o Recife”, lembra emocionado. Fazia 96h que não via Azulão.
 
O reencontro
Quando Azulinho, finalmente, avistou seu pai na lanchonete, não conseguiu conter a alegria. “Na hora ele tirou uma sunga de banho da bolsa e afirmou que estava procurando uma praia, mas não tinha encontrado nenhuma. Ele ainda contou que estava à busca de uma namorada que havia conhecido no cinema São Luís”, lembra Azulinho sorrindo.

A felicidade por ter encontrado o pai ocupou o lugar do medo de nunca mais ver o ente querido. “Quando uma pessoa some, a gente pensa um monte de besteiras. Quando o vi, o cansaço, o desespero e o sono foram embora”, conta.

Azulinho ainda lembra que toda busca foi feita por conta própria. Apesar de ter registrado o Boletim de Ocorrência (B.O) na delegacia local, foi graças à divulgação da imagem de Azulão na imprensa e em redes sociais que ele foi encontrado.

Agora, o cuidado é redobrado. “Sou vizinho dele e, mesmo assim, o danado conseguiu sumir sem avisar para ninguém. Mesmo que ele tenha ido por vontade própria, para nós, foi um desaparecimento. Agora, estamos sempre de olho para que ele não faça outros voos como este”, finaliza Azulinho.
 
Quando o sumiço tem vontade própria
Sempre muito brincalhão e agitado, Azulão parou a entrevista em vários momentos para cantarolar, sempre sorrindo, uma de suas músicas. Medindo, aproximadamente 1,45m de altura e vestido com a cor azul, característica que gerou seu apelido, nem dá para esperar uma voz com tamanho vigor vinda de corpo tão pequeno.

Para ele, seu desaparecimento foi, na verdade, “uma vontade de passear, respirar outros ares”. “Eu estava na rodoviária perguntando preços de passagens e surgiu uma vontade de mergulhar no mar do Recife”, conta Azulão. O cantor não pensou duas vezes e seguiu para a Capital Pernambucana sem avisar nada em casa.

Inclusive, diversas vezes, durante a entrevista, enquanto o filho se afastava para receber uma ligação, Azulão reforçava sua independência. Segundo ele, ainda é jovem e não necessita de cuidados especiais. “Eles acham que sou bobo, mas ao contrário do que pensam, eu faço o que quero”, complementa o cantor sussurrando.

Enquanto esteve no Recife, Azulão conta que várias pessoas o reconheceram, mas ele, esperto, negava ser o cantor caruaruense. “Eu disse que era irmão de Azulão, que estava desconfiado de estar sendo perseguido”, brinca.

Quando perguntado se, em algum momento, pensou que não veria mais sua família, Azulão é categórico. “Eu sabia para onde ia, o pessoal se preocupou a toa. Não sou mais criança”, explica.

Até mesmo quando reencontrou seu filho, na lanchonete do Recife, Azulão não perdeu o bom humor. “Perguntei logo se ele estava preocupado, pedi para que ele sentasse lá que eu iria lhe pagar o sanduíche que ele quisesse”, lembra Azulão com um sorriso estampado no rosto.

 

 

 

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