Kol ha Kavod e Le Chaim!

Como o povo judeu carrega uma grande tragédia em sua história, pretendemos com o MaguenTown celebrar a vida. Não queremos martirizar o leitor com relatos de um passado que tirou a continuidade de seis milhões de crianças, mulheres e homens que poderiam ter um futuro inteiro pela frente. Viemos exaltar a vida dos judeus pernambucanos, que conseguiram sobreviver e transpor oceanos, fronteiras e barreiras para montar uma comunidade que agrega uma rica cultura ao estado e também tem Pernambuco misturado à sua cultura tradicional.

O MaguenTown traz em seu nome uma paródia do eterno pernambucano Chico Science, que mostrava em suas letras que a valorização da cultura de fora pode formar uma bela harmonia com a cultura local. Science provou além disso que os excluídos também podem ter uma bela voz e transpor barreiras e preconceitos que não tem motivos para existir. “É nossa responsabilidade resgatar os ritmos da região e incrementá-los junto com a visão mundial que se tem”, conta o músico em entrevista ao Jornal do Commércio, no início da sua carreira.

No lugar do mangue usamos o Maguen. A palavra que em hebraico significa escudo, defesa, escamas. Ela é usada pelos judeus para identificar o seu símbolo mais conhecido, a estrela de David, ou do hebraico Maguen David. Maguen também refere-se de cobertura e proteção ao corpo durante um combate. Então, depois de várias tentativas surgiu o MaguenTown, site que fala dos judeus pernambucanos em sua essência. O escudo, a defesa, as escamas dos judeus pernambucanos. 

E é com essa responsabilidade que o MaguenTown mostra aos pernambucanos, e ao mundo, a cultura judaica, que com o passar das décadas se misturou e assegurou o seu quê de pernambucanidade. O site se propõe a mostrar como estes bravos guerreiros judeus chegaram às terras de altos coqueiros e construíram um futuro de crenças e esperanças, se moldando e criando uma Comunidade Judaica com uma identidade única.

 

Comentários pessoais:

Por Ana Eduarda Azoubel

Herdei o judaísmo do meu avô materno, que nasceu de uma história de amor vinda de terras gregas, antes mesmo da maior parte dos primeiros judeus chegarem e se estabelecerem em Pernambuco. O orgulho de ter o sobrenome Azoubel – hoje, uma das maiores famílias da comunidade judaica-, me fez pensar na realização deste projeto muito antes de me dar conta. Fui desenvolvendo pequenos trabalhos sobre o judaísmo, a comunidade judaica e sobre a minha própria família ao longo dos meus anos de universitária, chegando a ter a honra de ouvir meu tio Geraldo tocar para uma platéia que foi inundada por uma aula de judaísmo nas notas de sua gaita.

A oportunidade de um intercâmbio na Holanda surgiu e conhecer museus que falavam sobre as histórias dos judeus me pareceu um caminho natural para uma descendente. No entanto, foi neste caminho que o Trabalho de Conclusão de Curso começou a ser moldado na minha cabeça. Passei a caçar todos os museus do gênero por todas as cidades em que passei. Da Casa de Anne Frank até o Walking Tour pelas ruas de Budapeste. Cada frase, cada vídeo e cada lembrança de um passado perdido foram sendo agregadas as idéias do trabalho, que surgiu com o objetivo inicial de ser construído como um curta metragem.

Da Europa, de volta a Pernambuco, de Pernambuco a Israel. Embarquei, então, no Taglit Birthright Israel acompanhada de três primos, que toparam a aventura. Para o primo, que mora em Pernambuco, ficou o papel de ser personagem de um vídeo. Que futuramente seria enriquecido por uma colega de classe que também viajou com o grupo. Em Israel, toda a emoção e a sensação de pertencimento, me deu a oportunidade de aprofundar um pouco mais meus conhecimentos sobre os judeus, suas histórias e, lá também, em seu meio de vida e suas filosofias.

Com as idéias ampliadas mundialmente, faltava agora para o projeto focar na cultura local. Algumas fontes vieram naturalmente para o projeto pelo renome e grande conhecimento sobre o assunto, como Tânia Kaufman e Jacques Ribeboim. Outros surgiram aos poucos, com conversas e até durante pautas fotográficas, como Safira Zaicaner, Samara Rosenthal e minha prima Isabela Azoubel. Outras pessoas como Beatriz Scherb e Raquel Azoubel não chegaram a entrar como fonte no projeto por um motivo ou outro, mas deram um grande apoio.

Deixo então meu agradecimento à todas estas pessoas que colaboraram e à minha família toda, enfatizando a minha mãe, e minha avó por entenderem o meu estresse e me apoiarem. Aos meus amigos, que me deram os braços e me aliviaram da tensão de forma singular, e àqueles que fiz em Israel, que certamente formamos uma pequena família. À minha chefe e às minhas colegas de trabalho, pela compreensão nas faltas, na revisão do projeto e no apoio. À Comunidade Judaica de Pernambuco, em especial ao Habonim Dror, que me abrigou como uma filha retornando a sua casa, as suas origens. E por fim, mas não menos importante, à minha dupla, meu parceiro, Rudá Cabral, por ter embarcado nessa viagem pela história dos judeus. Por ele ter tranquilizado as minhas lágrimas e tomado defesa da nossa causa.

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Por Rudá Cabral

Quando me foi proposto ingressar neste projeto, confesso que fiquei receoso. Dos judeus e sua história conhecia apenas o fundamental, aquilo que todos conhecem. Lembro que na mesma noite fui para casa, deitei a cabeça no travesseiro e pensei sobre o assunto. No dia seguinte, decidi aceitar. Ali se iniciava uma jornada de conhecimento da história deste povo com Pernambuco, das misturas culturais e da identidade criada por eles. Chegamos a um consenso, o foco do projeto seria evitar a todo custo os esteriótipos sobre os judeus e proporcionar ao leitor uma panorama da comunidade judaica atual em Recife, sem esquecer as gerações passadas.

Apesar de não ser membro da comunidade, fui bem recebido por várias fontes e quero deixar meu agradecimento especial à Tânia Kaufmann, Daniel Breda, Germano Zaicaner e Beatriz Schwartz, pela disponibilidade e atenção. Não menos importante foi Joseph Mizrdri. Judeu convicto, mas que nutre uma paixão por futebol genuinamente brasileira e Pola Berenstein, uma verdadeira lição de vida. A simpatia e boa vontade deles, foi uma força motriz para darmos continuidade ao projeto e a cada dificuldade que enfrentávamos, a cada não que ouvíamos nos lembrávamos deles. Infelizmente provamos da indiferença de algumas fontes que não souberam entender a importância do trabalho para comunidade. Bola para frente. 

Fora da comunidade tivemos ajuda de várias pessoas, entre eles quero agradecer aos professores Thales Castro e Vlaudimir Salvador, este último fazendo jus ao sobrenome. Agradecimento especial ao meu amigo Alexandre Pádua pela ajuda pontual em um momento delicado do projeto. Com muito carinho, agradeço também a minha namorada Raissa D”assunção pela paciência, carinho, compreensão e apoio. Sem ela não conseguiria concluir o projeto. Por fim, quero agradecer aos meus familiares e minha parceira Ana Eduarda Azoubel por me receber neste trabalho de braços abertos.    

*Kol a Kavod, do hebraico, com todo respeito. Simbolizando o nosso respeito com a Comunidade Judaica de Pernambuco e o respeito que recebemos.

*L’chaim – do hebraico, à vida! Usado como brinde em enfase à vida.