Segundo a sabedoria popular, religião, política e futebol são assuntos que não se discutem. No Brasil, a maioria das famílias segue os preceitos do catolicismo, uma herança cultural deixada pelos portugueses colonizadores e disseminada ao longo dos séculos. No entanto, os brasileiros se misturaram com outras culturas e absorveram costumes dos mais variados tipos. Nesse contexto,estão os judeus que trouxeram na bagagem uma série de particularidades, dentre elas, o judaísmo. Esta doutrina com aproximadamente 4 mil anos de existência é a mais antiga das quatro religiões monoteístas do mundo.
O judaísmo é uma das três principais religiões abraamicas definido como “religião, filosofia e modo de vida” do povo judeu. A Torá é a bíblia hebraica, chamada pelos cristãos de Velho Testamento. Ela reúne os cinco primeiros livros da Bíblia e tem autoria atribuída a Moisés. A Torá é o instrumento em que os fiéis fundamentam toda a sua doutrina. Os templos onde se realizam as celebrações religiosas são as sinagogas. O chefe religioso da sinagoga é o rabino. Ele tem papel similar aos padres na igreja católica, realizando os ritos religiosos, casamentos e conversões. Outra figura importante é o Chazan. Ele tem papel muito parecido com o do rabino, no entanto, não pode converter nem separar casais judeus.
“Hoje, temos uma linha mais ortodoxa que segue os preceitos de judaísmo de maneira mais severa. Há os conservadores, que são mais liberais em relação à doutrina, e os reformistas, que pregam mudanças mais radicais nos pilares judaicos” Chazan David Leo
Os seguidores do judaísmo são em grande maioria judeus de nascença. Em doutrinas mais ortodoxas, um judeu só é realmente judeu quando nasce do ventre de mãe judia. Embora alguns simpatizantes do judaísmo acreditarem que a pessoa apenas precisa se sentir judia para seguir o judaísmo, há quem discorde. “Não faz sentido uma pessoa que não é judia ou que não se converteu a tal condição seguir o judaísmo”, afirma o chazan David Leo Eisencraft. Ele mora em São Paulo, mas viaja uma vez por mês ao Recife para realizar missas no Centro Israelita de Pernambuco como convidado.
Para o chazan, existem hoje existe várias ramificações do judaísmo. “Hoje, temos uma linha mais ortodoxa que segue os preceitos de judaísmo de maneira mais severa. Há os conservadores, que são mais liberais em relação à doutrina, e os reformistas, que pregam mudanças mais radicais nos pilares judaicos. Esta corrente inclusive prega que não precisa ser filho de mãe judia para ser judeu”, comenta David Leo.
O judaísmo é uma religião que está diretamente ligada ao modo de vida do seu seguidor. Alguns aspectos inclusive se confundem intensamente na maneira de viver dos judeus. “Não comer carne de porco e frutos do mar são algumas destas características, pois são alimentos considerados impuros”, afirma a pesquisadora e presidente do Arquivo Histórico Judaico, Tânia Kaufmann. “Além desses alimentos, os derivados de laticínios também não são consumidos de maneira liberada. As correntes mais ortodoxas só ingerem alimentos tratados pelo rabino. Naturalmente, as correntes mais liberais não seguem essas medidas à risca”, complementa Tânia.
Outro assunto delicado é quando se fala em casamento. Segundo o chazam, os chamados casamentos inter-religiosos, ou seja, entre um casal de duas religiões diferentes, não existe. “Este conceito não existe, o casal tem que escolher entre uma religião ou outra. De qualquer forma esse será um assunto que, mais na frente, sempre vai voltar à tona, pois terão que escolher a religião que o filho vai seguir” argumenta Eisencraft. “No meu ponto de vista, é importante manter as portas abertas para o casal decidir”, finalizou.