• 2 de dezembro de 2013
Os traços que revelam a identidade judaica pernambucana

Navios vindos do velho continente atracam no Porto do Recife e, entre os passageiros que desembarcam, judeus chegam e permanecem. Esta cena de imigração,comum ao mundo atual e globalizado, tornou-se constante na cidade do Recife no fim do século 19 até meados do século 20, mas o que acontecia ali já não era um fato novo. Durantes os séculos 16 e 17, judeus também chegaram ao Recife. Talvez os primeiros tenham inspirado os segundos a também procurarem a capital pernambucana, mas agora o motivo da vinda era outro. Em quase toda a Europa, a perseguição aos judeus se espalhava e estes buscavam apenas um lugar onde pudessem criar seus filhos e rezar ao seu Deus sem que fossem caçados por isso.

Praça Maciel Pinheiro: Ponto de encontro entre judeus

Praça Maciel Pinheiro: Ponto de encontro entre judeus

Foi desta maneira que a Comunidade Judaica de Pernambuco que existe hoje foi formada. Famílias tradicionais da sociedade chegaram com poucos membros e agora já assistem uma geração de filhos, netos e bisnetos judeus que nascem, crescem e estabelecem seus laços com a sociedade e com a nação brasileira. Hoje eles formam gerações de judeus pernambucanos, que valorizam os seus ancestrais e não esquecem onde nasceram.

A historiadora Tânia Kaufman conta que as primeiras ações que consolidaram a integração do povo judeu com o povo pernambucano teve início com o estabelecimento dos judeus no comércio. “A ocupação se deu no bairro da Boa Vista, onde casas comerciais formaram o vetor mais importante da integração positiva dos judeus. A partir daí, os eles não permaneceram mais à margem dos acontecimentos sociais, econômicos e culturais que aconteciam naquele momento na Europa”, explica.

A Praça Maciel Pinheiro se transformou no coração dos primeiros imigrantes judeus da comunidade atual, que só começaram a se espalhar pela cidade na mesma época em que os judeus pararam de ser perseguidos pela Europa. Esse é um dos pontos citados na pesquisa de mestrado da arquiteta judia pernambucana Rosa Ludemir. “Os judeus tem a necessidade de manter sua identidade. (…) E um mecanismo urbanístico para que isso aconteça é estarem juntos, num mesmo lugar”, relata também Ludemir em sua tese. Mas a Boa Vista continuava como um importante pólo comercial tanto para o Recife quanto para os judeus, a prova disto é a importância da rua da Imperatriz para o comércio de Pernambuco. 

“Nós, judeus, não somos diferentes de nenhuma outra comunidade religiosa” – Rabino Joseph Edelheit

A geração que já nasceu no Recife vive, então, de forma integrada e está inserida no dia a dia da cidade, mas sem deixar de lado as tradições e os costumes que foram ensinados pelos seus pais e avós, e que são originárias de terras distantes. Por outro lado, cerca de 70% dos casamentos das famílias judaicas já são considerados inter-religiosos, onde um dos cônjugues não é judeu. E os filhos destas uniões são considerados tão judeus como aqueles primeiros que chegaram a Pernambuco nos séculos passados.

O Rabino Joseph Edelheit, aprova um judaismo mais reformista

O Rabino Joseph Edelheit, aprova um judaismo mais reformista

“O importante é não deixar a criança, fruto do casamento inter-religioso, crescer sem esta cultura e negá-la à sua identidade”, lembra o rabino progressista nova-iorquino e professor da St. Cloud State University nos Estados Unidos, Joseph Edelheit. “Nós, judeus, não somos diferentes de nenhuma outra comunidade religiosa. Durante 40 anos em que sou rabino, tenho falado para os casais inter-religiosos o seguinte: “Você não pode criar o seu filho com as duas religiões, e você não pode criar seu filho como nada. Vocês devem a seus filhos o que seus pais deram a vocês. Se uma criança é criada como nada, os pais acabam sendo covardes”, afirma o rabino Joseph.

Por isso, casais inter-religiosos como Isabela e Marcos resolvem colocar seu filho no Colégio Israelita e dar a eles uma educação judaica. “Queremos dar a ele a educação que tive, que ele possa conhecer a cultura que também é dele. Porque isso será importante no crescimento e na construção de valores. Mas não quer dizer que ele não vá seguir os seus próprios caminhos quando crescer”, afirma Isabela que é filha de pai judeu e mãe não judia mas sempre participou das atividades da Comunidade Judaica de Pernambuco.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *