No ano de 1918, começou a funcionar no Cais José Mariano a primeira “Idiche Schul” de Pernambuco. A escola que abria as portas para que crianças e jovens judeus pudessem iniciar e seguir seus estudos, dando uma continuidade às suas vidas que tinham sido interrompidas na Europa. Foi esse o ponto de partida para que ainda hoje jovens judeus possam receber o ensino das tradições e da cultura judaicas assim como receberam seus ancestrais em outras comunidades.

O Colégio Israelita Moisés Chvarts – nome que recebeu no ano de 1967 – tem 95 anos de tradição e é palco educativo para 72 alunos judeus e não judeus. “O colégio sempre foi aberto, mas a mentalidade na época dos nossos pais e avós era diferente”, afirma Raquel Gandelsman, diretora da instituição de ensino. “É muito difícil fazer uma contagem de quantos não judeus estudam na escola, até porque se contarmos o desejo e entrosamento das crianças, todos poderiam se considerar judeus. Mas podemos dizer que entre as 72 crianças 12 delas não têm realmente nenhuma ligação com o judaísmo. Estas procuraram o colégio pela tradição e por não seguirmos religião”, explica a diretora.

“Trabalhamos sempre com as crianças a importância de aprender com o outro. O respeito verdadeiro, não apenas a tolerância. É fundamental para nós que haja (na escola) crianças de fora da comunidade. Não queremos mais estar no gueto. Queremos estar trocando, isso ensina muito mais”

Mãe de três alunos, a advogada Gisiele Augusto afirma que matriculou os filhos porque seus sobrinhos já estudavam na escola e se encantou pela forma que eles eram tratados mesmo não sendo judeus.  “Eu sou da  Testemunhas de Jeová, e meus sobrinhos também são. Então, em outras escolas, é natural você sentir certa pressão, mas aqui eles entendem bem as diferenças. Os valores judaicos são muito importantes. Eles prezam muito a família, a comunidade, a união e não impõe questão religiosa alguma para as crianças. Meus filhos se sentem melhor aqui, do que em outras escolas. Os colegas não colocam pressão pela diferença de religião”, relata.

Para a diretora, esta convivência intercultural é fundamental no aprendizado e na educação dos pequenos. “Trabalhamos sempre com as crianças a importância de aprender com o outro. O respeito verdadeiro, não apenas a tolerância. É fundamental para nós que haja (na escola) crianças de fora da comunidade. Não queremos mais estar no gueto. Queremos estar trocando, isso ensina muito mais”, expõe Gandelsman.

Se afastando da religião e buscando se basear nos padrões mundiais de ensino de alto nível, o Colégio Israelita se baseia na tendência do ensino de Israel e em outras escolas judaicas brasileiras. Além de seguir o currículo regular de ensino exigido pelo Ministério da Educação e da Cultura, o Colégio inclui ensinos específicos à sua grade de aulas, como a língua hebraica e a história e a tradição judaica, e segue tanto o calendário nacional quanto o judaico e seus feriados.

Antiga geração em atividade recreativa Foto: Acervo

Antiga geração em atividade recreativa | Foto: Acervo

A ligação do Colégio Israelita Moysés Chvarts com a comunidade vai do aprendizado da cultura, da comida, da dança, da música, aos próprios valores humanos, que são tradicionalmente fortes no judaísmo, para que esses se desenvolvam com as crianças. Essa foi a razão pela qual Isabela Azoubel, dentista, escolheu colocar seu filho no colégio. “Estudei aqui e meu marido não é judeu, mas, mesmo assim, decidimos colocar o Lucas aqui para preservar as tradições do judaísmo, dos valores da família, um pouco de tudo. Além de, no momento, ser o único lugar onde ele vai ter os conhecimentos judaicos. Considero isso importante”, conta.

Além de prezar a tradição judaica, o Colégio Israelita segue outras vertentes adotadas pelo povo judeu, como a de ser um colégio comunitário e de diálogo aberto. “Somos um colégio que não tem dono. E atendemos as demandas da comunidade escolar, não só a comunidade judaica. Estamos em diálogo permanente, minha porta está sempre aberta para as crianças, para os pais, para todo mundo. O Colégio Israelita é um colégio que a gente é que faz”, conclui Gandelsman.

 

 

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