Kol ha Kavod e L’Chaim!
Como o povo judeu carrega uma grande tragédia em sua história, pretendemos com o MaguenTown celebrar a vida. Não queremos martirizar o leitor com relatos de um passado que tirou...
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“O homem anseia por absorver o mundo circundante, integrá-lo a si; anseia por unir na arte o seu EU limitado com uma existência humana e coletiva e por tornar social a sua individualidade”. Esta frase, dita pelo ensaísta austríaco, Ernst Fischer, em sua obra A Necessidade da Arte, resume bem a relação entre o Teatro Ídiche e os israelitas que aportaram no Recife durante a primeira metade do século passado.
De 1908 até 1930, muitos judeus chegaram da Europa fugidos dos movimentos antissemitas, que se disseminaram no Velho Continente e acabaram iniciando a Segunda Guerra Mundial. A adaptação para nova realidade não foi difícil. Encantados com o Carnaval, a cachaça e o futebol, os imigrantes logo se inseriram na sociedade recifense. “A maior parte deles morava no entorno da Praça Maciel Pinheiro, onde existia uma forte presença também no comércio, ali na Rua da Imperatriz”, afirma Jacques Ribeboim, professor e pesquisador da história judaica em Pernambuco. “Para você ter uma ideia, a língua mais falada naquela região era o ídiche”, completa Ribeboim.
Dentre os movimentos artísticos para se integrar culturalmente, estava o teatro, peça fundamental para inclusão dos judeus na sociedade pernambucana. O interesse crescente pelo teatro ajudou a formar, em 1929, o Centro Dramático Israelita de Pernambuco, primeiro grupo de gênero na cidade. No repertório, peças clássicas de Shakespeare e de autores famosos na Europa. As apresentações eram realizadas no Teatro Santa Isabel, localizado no bairro de Santo Antônio, Centro do Recife. Apesar de serem representadas na língua ídiche, as peças eram acompanhadas também pelos pernambucanos que ocupavam as cadeiras do teatro cheios curiosidade.
Além da inserção social, o Teatro Ídiche foi importante para mistura cultural nas manifestações artísticas. “Eles intercambiavam experiências. Dramaturgos e artistas de várias capitais brasileiras vinham para Pernambuco participar das peças do Centro Dramático Israelita. Waldemar de Oliveira e Geninha de Rosa Borges eram figuras importantes no cenário local que trocavam experiências com o Teatro Ídiche. Aquela era uma época de grande efervescência artística”, declara a pesquisadora e presidente do Arquivo Histórico Judaico em Pernambuco, Tânia Kaufmann. Segundo ela o grupo teatral era unido e tinha um forte viés democrático. “Todas as noites eles se reuniam para discutir temas relacionados às peças. Todos escreviam em um papel os temas de interesse e depositavam em uma caixa onde seria sorteado o tema a ser debatido”, revela.
A partir da década de 1940, o Teatro Ídiche deu lugar a uma geração de judeus nascidos na cidade e com uma influência mais política. Os novos grupos de teatro teriam mais peças da dramaturgia nacional e seriam engajados na política com uma forte ideologia de esquerda. Desta vez, com textos feitos na língua portuguesa. O intercâmbio cultural também foi presença durante esta geração que participava de encontros nacionais e apresentações em todo o Brasil. Esses movimentos sobreviveriam um pouco mais de uma década até a diluição total do teatro judeu e incorporação à sociedade atual.