Por muito tempo Alexya não acreditou que um dia conseguiria formar uma família. Durante toda a infância, vivenciou a guerra interna de ser alguém que não era ela mesma, em nome de sua paixão: Jesus Cristo. Para ela, a religião é algo fundamental, por isso, entrou para o seminário teológico com o desejo de ser padre quando ainda respondia como homem. No futuro percebeu que essa decisão estava errada e decidiu largar os estudos teológicos para se descobrir.
Ela, então, passou a se relacionar com rapazes. Embora ainda não entendesse muito bem sua identidade de gênero, a sua sexualidade já estava resolvida. Foi só aí que, depois de sair de um relacionamento abusivo, ela conheceu o seu marido e parceiro, Roberto Salvador. Eles resolveram assumir uma união estável e, até esse momento, tudo parecia bem para o casal, mas ainda falta algo. Alexya sempre desejou receber as bênçãos matrimoniais para que sua família pudesse crescer no caminho cristão. Foi então que ela descobriu a instituição Igrejas da Comunidade Cristã Metropolitana (ICM). “Na igreja, observando outras irmãs e estudando eu entendi que tudo o que eu sentia tinha nome, sabor, cheiro, tinha gosto e lugar e então pude fazer minha transição e me ‘empoderar’ como mulher transgênero”. Faz sete anos que Alexya iniciou sua transição.
Mais difícil do que assumir para si mesma a condição como mulher transgênero, foi contar para o marido. Durante um tempo, Alexya deixou pistas de sua transição para Roberto ir se preparando. Em uma noite, Alexya chamou o marido para conversar e contou que não se sentia como homem. E que, na verdade, dentro dela, havia uma mulher e que há algum tempo já estava deixando externar isso. Ela estava preparada para que o marido a deixasse. Afinal, ele se apaixonou por um homem e não uma mulher. Estava enganada: na verdade, ele amava a pessoa que estava por dentro do corpo da esposa. Ele amava o carinho, a compreensão e a cumplicidade que ambos criaram juntos. Assim, Alexya pôde enxergar, pela primeira vez, que, sim, ela poderia ter uma família e sentir o amor e a benção de Deus.
Pouco tempo depois, Alexya começou a estudar para chegar onde está hoje, pastora da ICM em São Paulo. Hoje ela é responsável não somente por levar a palavra de Deus adiante, mas tirar a angústia de pessoas que são como ela já foi, que vivem com medo ser quem são e amar quem amam.