Dona Marly: Com muito orgulho

“Foi muita felicidade, é o orgulho de uma mãe ver até onde ela chegou.”, disse a dona de casa Marly de Lima, de 52 anos, mãe da primeira mulher transgênero a passar no exame da OAB-PE, Robeyoncé Lima.

Dona Marly sempre teve uma relação boa com Robeyoncé, mesmo antes da transição da filha, há pouco mais de dois anos. Na realidade, ela sempre imaginou que isso pudesse acontecer, porém teve a certeza quando começou a encontrar as pistas deixadas pela filha em casa. “Tinha batons, tinha roupas femininas, então eu já imaginava”, afirmou a dona de casa enquanto olhava para a filha ao seu lado.

Ao contrário do que acontece na maioria dos casos, elas nunca tiveram a conversa sobre a transição. Quando Robeyoncé se viu convicta de que se identificava como mulher pediu para ser chamada pelo seu nome social. Hoje, esse é o nome que consta em seu registro de identidade. “As pessoas cisgênero (pessoas que se identificam com o gênero que nasceram) não precisam chegar para a mãe e afirmar que é um cis, então eu não quis ter que afirmar isso para ela”, disse.

Para o resto da família, o fato de Robeyoncé ser uma pessoa trans não interessou muito. Principalmente porque, hoje, a família está dissolvida. “Depois que minha avó morreu, há alguns anos, o elo de ligação da família não está mais aqui”, explicou.

Na questão materna, Dona Marly afirma que nada mudou. Robeyoncé se comporta como sempre, demonstra ser a mesma pessoa que era antes da transição. Isso prova que ela sempre esteve ali, mesmo que escondida por um tempo. O que a mãe ganhou com tudo isso foi uma amiga, uma mulher dentro de casa para que não se sentisse sozinha e um estoque extra de roupas e maquiagens.

Em 2016, Robeyoncé se tornou a primeira mulher trangênero a ser a aprovada no exame da Ordem dos Advogados Brasileiros, em Pernambuco (OAB-PE), teste de conhecimentos necessário para que os bacharéis em direito possam exercer a função de advogado. Ela ainda não tinha finalizado a faculdade quando foi divulgado o resultado de sua aprovação. O coração da Dona Marly encheu-se de alegria. “Agora eu vou ter uma autoridade em casa”, disse a mãe com brilho nos olhos.

É imensurável o orgulho de uma mãe que cresceu na periferia ao saber que acertou. Ao entender que toda a dedicação que teve com sua filha, desde criança, rendeu os frutos que sempre esperou. Não é sobre ter uma profissão mais privilegiada do que a dela na sociedade e, sim, sobre o reconhecimento de ter uma mulher negra e advogada dentro de casa.

Embora a empregada doméstica tenha conseguido uma nova companheira feminina dentro de casa, as preocupações de ser mulher na sociedade começaram a surgir na cabeça da mãe. “A gente sabe como é do lado de fora. Quando ela sai, tem que dizer tudo. Meu coração fica a mil km/h, nunca se sabe o que pode acontecer”, preocupa-se. Mas ela encoraja a filha a viver sua vida.

Essa proteção é o que hoje une as duas. Robeyoncé não pensa em algum dia sair de casa. O lar dela é onde sua mãe está. E Dona Marly não consegue se imaginar longe da filha que ama. A união das duas, a troca de carinhos e até maquiagens e acessórios criou um elo de amizade que dificilmente vai ser quebrado. “É bom você saber que tem aquela mãe aqui, disposta a ver você como você também se enxerga”, disse a advogada.

 

 

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