Em agosto de 1981, o dirigente Abílio de Almeida confirmou que a Federação Internacional de Futebol (FIFA), sob o comando do presidente João Havelange, realizaria o campeonato mundial de futebol feminino. 

Embora o ânimo despertado pelo esporte tenha se difundido em todo o mundo, o futebol no Brasil ainda era proibido para as mulheres e continuava cercado de preconceitos. Contudo, a aceitação do público e das atletas na Europa foi significativa, atraindo atenção dos empresários. Com o movimento e a pressão das jogadoras para a regulamentação da categoria, a Federação Internacional de Futebol (Fifa) mostrou os primeiros movimentos para a organização da competição.

Com o posicionamento da Fifa, em outubro de 1981 o dirigente do Conselho Nacional de Desportos (CND), Henri Aidar, afirmou que, se a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) resolvesse pela liberação do futebol de mulheres, o CND apreciaria a prática “baseado em estudos de integrantes de entidades médicas e de educação física”.  Mais uma vez, a participação das mulheres no esporte ainda passaria por novas avaliações.

Durante a passagem pelo Brasil, em 21 de novembro de 1981, o presidente da Fifa, João Havelange, revelou a intenção de que dentro de dois anos o Campeonato Mundial de Futebol Feminino seria promovido, reconhecendo a prática do esporte por mulheres. A competição seria formada pela disputa de oito equipes convidadas pela Federação. 

Além da competição feminina, a entidade pretendia introduzir o Campeonato Mundial Infanto-Juvenil e o Campeonato Mundial de Futebol de Salão, completando, ao todo, seis eventos dirigidos pela corporação, entre Copa do Mundo, Campeonato Mundial de Juvenis e Jogos Olímpicos, na modalidade futebol. 

Apesar de nenhuma movimentação concreta no Brasil para legalizar o futebol feminino, em  30 de julho de 1982, o assessor jurídico do CND, Carlos Osório de Almeida, comunicou que “a adoção do futebol feminino no Brasil dependeria muito mais da Fifa do que da própria Confederação Brasileira de Futebol pois, na hora que a Fifa fizer as regras e criar um Campeonato de Futebol Feminino, a entidade nacional poderá participar”. 

Já no dia 24 de agosto de 1982, a Comissão Especial da Fifa passou a coordenar as leis a serem aplicadas no futebol feminino, entre elas o diâmetro, peso e tipo da bola; tempo de duração da partida, árbitro e as leis próprias do jogo.   

O início das regulamentações não impediram que os organizadores ainda expusessem o pensamento de inferioridade das mulheres quanto à prática do futebol. Como afirmou o assessor jurídico do CND, Carlos Osório de Almeida: “Do ponto de vista médico pode haver necessidade das regras serem diferentes, tendo em conta que há a considerar a condição morfo-fisiológica da mulher. A bola pode ser muito pesada, chegando a machucar. Os juvenis jogam dois tempos de 40 minutos. Entre homens adultos, dois períodos de 45. No futebol feminino não deve ser igual”. 

Após a declaração, o assessor jurídico do CND referiu-se à afirmação acima como “apenas análises genéricas e não específicas, e que é perfeitamente aceitável a realização de experiências para a regulamentação, com o consequente estabelecimento do conjunto de normas, permitindo assim a sua liberação no Brasil”. 

Com a regulamentação do futebol feminino por parte da Federação, a CBF deveria ainda enviar um ofício para o CND informando que a categoria poderia ser disputada no país, em acordo com as regras fixadas internacionalmente pela Fifa.

Caminhando na direção oposta à Federação Internacional de Futebol, o presidente do Conselho Nacional de Desportos, Cesar Montagna, afirmou que, mesmo com a regulamentação do futebol feminino, a categoria não deveria realizar os jogos em campos oficiais. Segundo Montagna, a CBF voltou a recomendar aos clubes e federações que não promovessem jogos entre equipes femininas até que a modalidade fosse oficializada.

A tentativa de enfraquecer a prática do futebol feminino persistiu no Brasil. De acordo com matéria publicada no dia 1º de outubro de 1982 pelo Diario de Pernambuco, o general Cesar Montagna reforçou que o futebol de mulheres ainda estava proibido no Brasil e alertou que, caso a ordem fosse descumprida, poderia haver punições aos promotores dessas partidas. 

A proibição foi corroborada com mais uma declaração de Montagna, garantindo que, apesar de uma exigência dos desportistas de Brasília para que uma Federação de Futebol Feminino fosse criada, o CND não permitiria a criação de uma entidade que tratasse exclusivamente do futebol feminino em qualquer lugar do país. “O futebol feminino terá que passar por um estágio de desenvolvimento como aconteceu com o masculino, até adquirir as condições de ser profissionalizado”, salientou Cesar Montagna.

É importante comentar que, como apresentado neste site, o futebol feminino não recebeu apoio para ser desenvolvido da mesma maneira que o masculino. As partidas não eram remuneradas e os jogos aconteciam apenas nas preliminares de disputas profissionais dos times formados por homens. Ademais, a categoria ainda não era legalizada e o maior movimento foi feito por parte das jogadoras. 

Para o então presidente do Conselho Nacional de Desportos, a proibição do futebol feminino tinha por objetivo “evitar que este esporte torne-se alvo da exploração de pessoas inescrupulosas ou de projetos caça-níqueis”. 

Ainda sem a legitimação da Federação Internacional de Futebol, em abril de 1983 o presidente da instituição, João Havelange, afirmou que pretendia fazer com que o Brasil recebesse o primeiro Campeonato Mundial de Futebol Feminino. Apesar das afirmações de Havelange, a disputa não tinha data prevista para acontecer, já que o Comitê Técnico da Federação ainda estudava a regulamentação da modalidade. Contudo, no mesmo ano,  a  liberação da prática de futebol por mulheres foi, finalmente, formalizada.