No dia 3 de outubro de 1980, o primeiro torneio de futebol feminino foi anunciado pelo Diario de Pernambuco. A competição contava com o apoio do poder público e dos dirigentes dos clubes. A organização do torneio teve a participação da Secretaria de Ação Social da Prefeitura do Recife para construir os regulamentos da disputa. O Diario também participou dos bastidores, cedendo o departamento esportivo do jornal para realizar as inscrições do evento. De acordo com o jornal, o evento se tornou o primeiro campeonato de futebol feminino do Brasil. 

As partidas tinham duração de 60 minutos e foram disputadas nos campos dos Centros Sociais Urbanos da Campina do Barreto e Bidu Krause. O primeiro jogo aconteceu no dia do anúncio, entre os times de Água Fria e o Nápoles (antigo As Panteras).

Partida entre Traquinas do Curado e do Centro Social Bidu Krause. Foto: Narciso Lins | Acervo Museu da Cidade do Recife

O primeiro clássico das multidões

No dia 5 de outubro daquele mesmo ano, o time Tricolores enfrentou o Coração de Leão pela primeira vez no Estádio José do Rego Maciel, o Arruda. Depois de três meses de treinamento, as atletas se apresentaram pela primeira vez em um estádio oficial para grande público. A partida era preliminar dos jogos juvenis e profissionais masculino.

Sport e Santa se enfrentam no primeiro duelo pelo “clássico das multidões”. Foto: Narciso Lins/Acervo Museu da Cidade do Recife 

Campeonato Pernambucano de Futebol Feminino

Com a criação do Departamento de Futebol Feminino, no dia 25 de maio de 1983, a Federação Pernambucana de Futebol (FPF) iniciou as inscrições dos clubes para a competição estadual. Apesar dos torneios anuais já acontecerem, o Campeonato Pernambucano só tomou o formato que conhecemos hoje em 1999 tendo como vencedor, em sua primeira edição, o Sport Club do Recife. 

O time com maior número de conquistas do Campeonato Pernambucano é o Vitória de Tabocas. Fundado no dia 3 de agosto de 1990, no município de Vitória de Santo Antão, o tricolor das tabocas – como é conhecido – colecionou vitórias importantes e arrematou sete títulos do Pernambucano (2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015 e 2016).

Vitória de Tabocas comemora a conquista do Campeonato Pernambucano de 2016, após uma sequência de títulos consecutivos.
Foto: Associação Acadêmica e Desportiva Vitória das Tabocas | Arquivo

Além das conquistas estaduais, o Vitória foi vice-campeão da Copa do Brasil em 2012 e teve quatro jogadoras convocadas para a seleção brasileira. A equipe da Zona da Mata Sul de Pernambuco tornou-se referência no futebol feminino local. 

Com a liberação das atividades esportivas -paralisadas em 2020 por causa da pandemia de Covid- 19- O Campeonato Pernambucano foi retomado. Na edição de 2021, o Náutico disputou o título com o Sport nos pênaltis, e conquistou o bicampeonato.

Náutico é bicampeão e celebra a vitória do Campeonato Pernambucano Feminino 2021. Foto: Náutico/Divulgação

Projetos de Lei e poder público: incentivo à categoria precisa de aprovação

Durante toda a história do futebol de mulheres, a modalidade precisou lutar dentro e fora dos campos para exercer a prática esportiva. Atualmente, a busca por igualdade salarial, melhores condições estruturais oferecidas pelos clubes e incentivo à modalidade também é debatida em Pernambuco. 

No estado, dois Projetos de Lei Ordinária extremamente importantes para o desenvolvimento do futebol feminino estão parados na Câmara Municipal do Recife e na Assembleia Legislativa de Pernambuco. 

O primeiro deles tramita na Câmara Municipal do Recife, é de autoria da vereadora Natália de Menudo (PSB), e propõe a igualdade no valor da premiação, patrocínio, apoio e disponibilização de infraestrutura para homens e mulheres nas competições e eventos desportivos realizados ou promovidos com qualquer tipo de apoio do Poder Público Municipal.

Ainda de acordo com o projeto, fica ressalvada a possibilidade de premiações, disponibilização de infraestrutura ou patrocínio diferentes para categorias distintas, dentro de uma mesma competição, na condição de que seja mantida a igualdade entre os gêneros que competem na mesma categoria. O PLO 17/2020 foi enviado em maio de 2020 e ainda aguarda parecer da Câmara do Recife.

Já o PLO 3133/2022, de autoria do deputado estadual Romero Albuquerque (PP), propõe a criação de um programa de incentivo à prática do futebol feminino em Pernambuco. O projeto consiste na promoção de torneios, campeonatos e eventos, além de destinar espaços para desenvolver a prática da modalidade. 

A proposta também tem como objetivo implementar o programa de incentivo à categoria nas escolas da Rede Estadual de Ensino, nos equipamentos esportivos da administração pública, como nos parques, por exemplo. Esse projeto foi publicado no dia 23 de fevereiro de 2022.

Recife Bom de Bola: O maior torneio de várzea do mundo

Maior torneio de futebol de várzea do mundo, Recife Bom de Bola oferece disputas para futebol feminino de campo e de salão.
Foto: Maurício Ferry | Seturel

Considerado o maior campeonato de futebol de várzea do mundo, o Recife Bom de Bola (RBB) acontece há cerca de 40 anos na capital pernambucana. Antes intitulado de Copa Arizona, no final da década de 1990 o torneio passou a ser chamado de Peladão Alto Astral e, no início dos anos 2000 alterou o nome novamente para Futebol Participativo. Apenas em 2013, a Prefeitura do Recife decidiu pela mudança definitiva e decretou a nomeação como Recife Bom de Bola. 

Atualmente, o campeonato é composto pelas categorias de base: sub-11, sub-13, sub-15 e sub-17; abertas feminino (a partir dos 14 anos) e masculino (a partir de 16 anos); veterano:  a partir dos 40 anos, com exceção dos goleiros, que podem participar a partir dos 30 anos. Além das categorias de várzea, o campeonato também oferece disputas no futsal feminino e masculino. 

De acordo com a gestão do Recife Bom de Bola, o evento recebe um investimento avaliado em cerca de R$ 700 mil que cobre a taxa de inscrição e de arbitragem. Ainda segundo a organização do campeonato, as partidas têm um custo médio de R$ 400,00 que não são repassados para as equipes. Os vencedores recebem um prêmio de R$ 20 mil.

Campeão do Recife Bom de Bola em 2019, Geração/Garra F.C Feminino estampa faixa e pede valorização da modalidade.
Foto: Daniel Tavares/PCR

A competição acontece em seis Regiões Político-Administrativas (RPAs), voltadas para a atuação dos times masculinos, por possuírem um número maior de equipes participantes. Já os times femininos, com uma quantidade inferior de equipes inscritas, jogam em um único campo. 

O lento investimento no futebol feminino estadual também é refletido no torneio que, em 2018, contou com a participação de apenas dez equipes. Em 2019, o número passou a ser de 15 times. Já em 2021, entre os mais de 400 times inscritos no campeonato, apenas dezoito eram formados por mulheres que atuavam no futebol de várzea e no futsal (nove em cada modalidade).

O gestor esportivo responsável pelo RBB, João Neto, informou que a prefeitura da capital pernambucana está desenvolvendo um projeto para transformar os campos de futebol de várzea em arenas, oferecendo vestiários, piso society e iluminação em melhores condições de uso. O Recife, atualmente, possui 70 campos de várzea. Os primeiros dois campos que devem ser escolhidos para iniciar o projeto estão localizados na Ilha de Joana Bezerra (Campo do Barro) e na Várzea (Campo do Beira Rio). A previsão é que as reformas comecem ainda em 2022. 

As inscrições para a edição de 2022 foram abertas e as informações completas podem ser consultadas aqui.