Quando se fala em academia de letras, logo se imagina aquele requinte de figuras ilustres, serenidade de discursos e uniformes de gala. Em Caruaru, no Agreste pernambucano, existe uma entidade semelhante, mas sem tanta formalidade. Lá, alguns poetas se reúnem na Academia Caruaruense de Literatura de Cordel, onde nomes de poetas populares imortalizam as cadeiras da instituição cultural, fundada em 18 de maio de 2005 por um grupo de artistas. O espaço tem o objetivo de não deixar a arte da literatura de cordel cair no esquecimento. As reuniões são feitas no Museu do Cordel, também em Caruaru, e contam com a prosa solta e poesia de artistas com o violão do lado e um chapéu de couro na cabeça.
O grupo é formado por 40 artistas – entre cordelistas, repentistas e emboladores -, que se reúnem no segundo sábado de cada mês. A localização do Museu do Cordel – próximo à feira de Caruaru – é estratégica, pois eram nas feiras livres onde os artistas se apresentavam e vendiam seus cordéis. Era ali, no meio das barracas de calçados, roupas e artigos de cozinha, que o repentista fazia sua rima. Ele começava a declamar a poesia, às vezes suas ou de algum conhecido, mas sempre com as métricas perfeitas e rima no final da estrofe. Ao final da apresentação, algumas palmas e um apreciador para comprar o livrinho.
Atualmente, os cordelistas de feiras não existem mais nestes moldes. Hoje eles são encontrados em museus, rodas de prosa e em instituições voltadas para a apreciação desta arte. E são nestas reuniões que os poetas voltam às origens, é quando a rima vem e a inspiração se faz presente no “quengo” do nordestino. Eles discutem sobre métrica, novos textos e encontros de repentistas. “Temos uma hora e meia de reunião e depois começam as apresentações de repente, embolada e declamação. Cada um mostra o trabalho que fez durante a semana, o mês”, explica o presidente da Academia, Olegário Fernandes Filho. Além disso, os cordelistas desenvolvem ideias e temas para as próximas obras. “Em todas as artes e todos os aspectos dá para fazer cordel. Já fiz para defunto, aniversário, faculdade. Para você ter ideia eu já declamei em um velório, fizemos uma homenagem declamando”, ressalta Olegário.
Os redutos são quase como um refúgio para um lugar onde possam expressar suas ideias. Ao sair dos encontros, os 40 artistas voltam aos seus afazeres, na maioria das vezes, totalmente diferentes do universo do cordel. Tem estofador, empresário, professor, ambulante, feirante. Mesmo com outras ocupações, esses poetas e emboladores conseguem respirar a literatura que ainda é apreciada no interior do Estado.
Assim como a Academia Caruaruense de Literatura de Cordel, o Museu do Cordel surgiu no coração da feira de eletrônicos da cidade. Foi fundado por Olegário Fernandes Filhos para homenagear e guardar as obras do pai. “Meu pai percebeu que os amigos iam morrendo, a família jogava o material dessas pessoas no lixo, queimavam, jogavam fora. Aí ele disse: “por que não fazer um lugar para guardar os acervos dos meus amigos?”, explica Olegário sobre a ideia de construir o Museu.
O sonho de montar aquele espaço surgiu em 1989, mas só foi concretizado em 21 de agosto de 1999. Com 14 anos de construção, o Museu tem hoje mais de 10 mil títulos de artistas de vários estados, inclusive do eixo Sul-Sudeste, como São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Os cordéis desses estados são de nordestinos que foram tentar a vida por outras bandas, mas têm a rima dentro de si.
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Academia Brasileira de Cordel
Já em nível nacional, no Rio de Janeiro, foi fundada a Academia Brasileira do Cordel em 7 de setembro de 1988. A primeira reunião aconteceu em uma sala que servia de comitê eleitoral, depois em bares e lanchonetes, para em 1989 iniciar a troca de informações culturais e “cordelianas”.
Com essa página, sinto até mais orgulho de ser cordelista. Precisamos recomendá-la a tantos quantos pudermos.