A grande paixão de Bacaro, 12 anos, não é a internet e sim a xilogravura

 

Joaquim Bacaro Borges nasceu na geração tecnologia. Poderia estar envolvido no universo dos tablets, smartphones e jogos eletrônicos. Enquanto as crianças de sua idade dividem o tempo entre carrinhos, bonecas e acessórios modernos, o adolescente de 12 anos passa os dias entretido em seu fantástico mundo: com a madeira, a faca e a tinta. O seu passatempo, diz orgulhoso, é a xilogravura.

 

A primeira gravura foi feita quando tinha apenas 4 anos. “Era bem pequenininha, foi o desenho de uma casinha. Eu já vendi ela faz tempo, não sei nem a quem vendi”, afirma Bacaro. Desde então, não conta mais a quantidade de xilogravuras que acumula no repertório. “Não tenho ideia não. Eu já nem conto. É uma diversão, um passatempo e é bom de fazer”, revela à reportagem, tentando encontrar as palavras para descrever suas brincadeiras de criança um tanto incomuns para a idade.

 

Tal paixão não poderia vir de outro lugar a não ser do berço. Bacaro é o benjamim dos 13 filhos vivos de  J. Borges. “Eu via ele fazendo, ai achei bonito e fui tentar fazer. Consegui, fui aprendendo e não parei mais”, relembra o adolescente. Atualmente, o caçula do xilogravurista divide o tempo entre o colégio e ofício, acompanhando o pai na criação das gravuras e venda dos artesanatos expostos no Memorial J. Borges.

 

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Entre os acessos à sua conta no Facebook e a pelada na vizinhança, elabora suas próprias figuras, com temas e cenários diversos. “A minha inspiração vem do dia a dia. Do Sertão, do que acontece. Eu vejo tudo isso e crio alguma coisa”, explica. Nem mesmo os frequentes acidentes provocados pela técnica rudimentar impediram o progresso do garoto.

 

Acostumado a receber os grupos de alunos que visitam o museu do pai, Bacaro está frequentemente exposto ao choque das tradições. Apesar da tecnologia presente no cotidiano da meninada, o adolescente garante: há espaço para o cordel e a xilogravura. “O povo gosta muito. Tem aluno que vem aqui e lê tudo”, conta. Já chegou, inclusive, a levar alguns exemplares para a escola onde estuda e cursa o 7º ano do ensino fundamental. “Tenho vários amigos que gostam e acham engraçado. Aqueles que não gostam é porque nunca leram”, ressalta enfático. Confira vídeo com o xilogravurista mirim:

 

O menino de fala mansa e jeito envergonhado já pensa no próximo passo: o cordel. Assim como começou na xilogravura, acompanha as criações do pai para, quem sabe no futuro, elaborar seu primeiro trabalho escrito. “Eu penso em fazer, só que é difícil. Você precisa de um tema. Ele (J. Borges) tem uma cabeça que em uma hora o cordel já está pronto”, se derrete em elogios ao pai e continua: “Ele é um exemplo de tudo, de vida. Me orgulho muito do meu pai”.

 

Bacaro ainda não tem planos para o futuro, mas garante, a xilogravura estará sempre presente. “Eu penso em ser engenheiro, penso em ser um monte de coisa. Mas eu acho que nunca vou parar de fazer xilogravura. Eu gosto muito, acho que não paro mais não”, confessa.

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