Em apenas três dias, eu pude aprender e viver ensinamentos que vou guardar pelo resto da vida. A primeira experiência em um presídio é marcante, ouvir as histórias dos personagens daquele local é mais impressionante ainda. Cada cabelo escovado no salão escondia uma vida cheia de marcas e fora de uma realidade que eu costumava presenciar.
Antes das primeiras apurações, as dúvidas eram como as de outras pessoas que nunca entraram em um sistema penitenciário feminino e que nunca tinham se perguntado sobre a beleza daquelas mulheres. O que elas vestiam? Como cuidavam dos cabelos? Quais seriam essas referências? Eram perguntas frequentes que eu me fazia.
Nos filmes de presídios não dá para sentir o mau cheiro e pessoalmente o local é mais impactante e assusta. Mas foi fácil identificar personagens. Mulheres maquiadas e arrumadas desfilavam pelo pátio com seus sorrisos de batom nos lábios e cabelos lisos, longos e soltos. A alegria e a naturalidade eram claras para os que passavam.
No primeiro encontro era possível sentir o desconforto. Elas se sentiam envergonhadas de estarem naquela situação e não queriam conversar, estavam nervosas. Meu trabalho era mostrar que não me interessava porque elas tinham sido presas, o que tinham feito no passado, se eram inocentes ou não, mas mostrar que elas não se abateram e continuam lindas independente das situações. Isso convenceu a elas e a mim. São mulheres alegres, femininas, companheiras e que souberam passar isso.
Algumas ganharam lugar especial no meu coração, como Preta e Fabiana. As duas chegaram até a me confessar histórias que nem faziam parte da entrevista, apenas por se sentirem confortáveis. Fizeram o projeto ganhar coração, mostraram que são belas por dentro e por fora.
O projeto mostrou para mim, e torço que possa transmitir isso também para quem lê, que essas moças marginalizadas e esquecidas pela sociedade podiam ser suas amigas, irmãs, mães. Que enquanto as pessoas tratam o salão de beleza como uma futilidade do cotidiano feminino, há mulheres que acham ali o seu local de refúgio. Não se sentir bem consigo mesma é o primeiro passo para uma depressão e uma simples manicure no meio da tarde pode salvar uma auto-estima que só quem já passou pela escassez, sabe como é. Espero que o projeto tenha despertado em cada um que leu e participou o valor da beleza feminina e a importância da vaidade. Seja de qualquer pessoa e em qualquer situação.
Reportagens, fotografia e edição de imagens
Vitória Maciel
Orientação e revisão de texto
Dario Brito
Design e diagramação
Flávio Santos
Áudio vinheta
Vitória Maciel
Edição de vídeo e vinheta
Vitória Maciel