Contextualização
O mercado literário brasileiro está em crise. De acordo com pesquisa feita pela provedora de dados para o setor de publicação de livros, Nielsen Bookscan, para a Câmara Brasileira do Livro e Sindicato Nacional de Editores de Livros, nos últimos 14 anos, o mercado editorial encolheu pouco mais de 20%. Salvos os livros religiosos. Os resultados assustam o mercado editorial, principalmente as editoras, que vivem em constante mudança de imagem e de comunicação para manter o público.
Não dá pra ignorar que a evolução dada pela tecnologia hoje é quem dá as cartas. Chegaram produtos eletrônicos como o Kindle, leitor de livros feito pela Amazon.com Inc. que lembra um tablet, mas também funciona nos smartphones através de um app. O Kindle traz a comodidade em ter uma estante de livros dentro de um dispositivo, comportando de 1.400 até 3.000 obras, fora a praticidade de transporte, peso mais leve, além da preservação da natureza por não utilizar papel.

As pessoas leram mais
durante o isolamento
A pandemia e todo o contexto de isolamento deram um empurrãozinho nas vendas literárias. Os resultados começaram a aparecer em maio e junho de 2020. Segundo o Painel de Varejo dos Livros no Brasil, apurado pela Nielsen para o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), julho marcou a interrupção de queda e o começo da evolução positiva, sob efeito da arrancada da venda do livro físico em meio digital.
No mês de julho de 2020, houve uma alta de 17% no faturamento em relação ao mesmo mês de 2019. Entre 7 de setembro e 4 de outubro, houve alta de 7,31% nas receitas, com a venda de 3,17 milhões de exemplares. O saldo ainda é negativo devido ao impacto dos meses mais deprimidos da pandemia. De janeiro até novembro de 2020, foram comercializados 29,1 milhões de livros, comparado a 30,2 milhões no mesmo período de 2019. O faturamento, até novembro de 2020, foi de R$ 1,25 bilhão, frente a R$ 1,32 bilhão de 2019.
O ano pandêmico de 2020 acabou diminuindo uma escalada de recuperação do setor. O presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), Marcos da Veiga Pereira, afirma que em 2019 o setor “teve um respiro, depois de quatro anos de queda nas vendas”. O ano terminou com o saldo de crescimento de 44% em comparação ao ano anterior. Segundo dados da Neotrust/Compre&Confie, em 2020, foram realizadas 14,2 milhões de compras de livros pelo comércio eletrônico. Esse resultado reflete o isolamento social.
E o mercado editorial?
Não é de hoje que o mercado literário anda em maus lençóis. Um dos maiores indícios é o encerramento de grande parte das unidades das duas maiores livrarias do país, a Cultura e a Saraiva, que aconteceu entre os anos 2018 e 2021, dando prejuízo de R$ 4,9 milhões em novembro de 2020, como mostrou um balanço da consultoria RV3. Essa queda progressiva causa diminuição de lançamentos e tiragens menores, que resultam em preços de capa mais altos, aproximando a dependência do mercado das multinacionais como a Amazon, que se beneficia de crises em mercados distintos. De acordo com a Dow Jones Newswires, responsável pelas principais publicações do mercado financeiro dos EUA, só nos últimos dois anos o lucro líquido da Amazon mais que dobrou, de US$ 3,2 bilhões em 2019, para US$ 7,2 bilhões em 2020, provando que a pandemia, para ela, resultou em uma soma positiva.
Ou seja, o que Daniel defende é que os leitores continuam ávidos pelos os livros, em dados segundo a pesquisa Retratos da Leitura do Brasil, divulgada em setembro de 2020 com dados de 2019. No Brasil, existem cerca de 100 milhões de leitores, que compõem 52% da população. Esses leitores são em números absolutos não estudantes (61,2 milhões), da classe C, D e E (70 milhões) e de renda familiar entre um e cinco salários mínimos (76,3 milhões). Em termos de porcentagens, é maior o número de leitores entre os que possuem Ensino Superior (68%), da classe A e B (67 e 63%, respectivamente), e de renda familiar de mais de 10 salários mínimos (70%).
A partir dos dados do infográfico, é possível ver o investimento em tecnologias e, principalmente, em marketing para esse mercado como uma saída para a crise. O público precisa saber que um livro existe, precisa se sentir atraído por ele. Isso através de uma boa estratégia de marketing. Não existem problemas quanto a forma como a maioria das editoras fabricam bons produtos, mas sim na maneira como a divulgação da obra é feita, o que, muitas vezes, não contribui para o sucesso nas vendas.
O tradicional e o independente
Segundo a plataforma de cursos online para novos autores, BookLabs, nas editoras tradicionais o autor é dono do texto, mas não do livro. Nesse método, a editora fica responsável por todo o trabalho de criação do livro. Por isso, a maior parte do lucro também pertencerá a ela, deixando o escritor com uma pequena quantia comparada ao retorno do livro no mercado. O escritor não tem tanto controle sobre o seu trabalho e fica totalmente alheio ao processo. Esse tipo de contrato só é vantajoso para autores de apelo popular.
Já nas iniciativas literárias independentes o escritor é dono da própria obra, ou seja, tem mais liberdade criativa na construção do texto, sendo totalmente responsável pelo conteúdo e originalidade, esse é um dos pontos mais importantes. A editora independente tem seu trabalho focado na área de produção, sendo responsável pela revisão, diagramação e impressão do livro, sob um preço justo para ambas as partes. Além disso, geralmente, o mercado criativo das editoras independentes permite uma interação maior entre o autor e a editora.
Um futuro utópico
Com o resultado positivo do último ano, as editoras independentes podem conquistar, cada vez mais, outros espaços no mercado. Cada uma fazendo seu trabalho da maneira que foi idealizado atrai o leitor de forma que possibilita o crescimento exponencial.
De acordo com o fornecedor líder mundial de informações bibliográficas para editoras, Bowkers, 1.009.188 livros independentes foram publicados nos Estados Unidos em 2017 – um crescimento de 256%, em 5 anos. O volume de livros do Clube de Autores, que tem 85% desse mercado aqui no Brasil, fica na casa de 1% do que se registra nos EUA. Ou seja: há ainda muito espaço para autores independentes aqui no país.
Nesse mesmo ano de 2017, o faturamento de livros tradicionais nos EUA cresceu 1,1%. Já o faturamento de livros independentes cresceu quase o dobro: 2,1%. 29% de todos os best-sellers nos EUA em 2017 foram publicados como livros independentes. Vale dizer que diferente do que possa parecer esse número de vendas nos EUA não se deve aos ebooks: 87% de todas as vendas de livros independentes são em formato impresso, e não eletrônico.
Olhando de maneira otimista, se lá fora os autores independentes já representam 30% dos best-sellers, os autores e editoras independentes torcem para que seja uma questão de tempo para que essa realidade se repita também aqui no Brasil.
Se foi para nunca mais voltar…
A virtualização das atividades das editoras foi algo que veio para ficar. Analisando os métodos de comunicação nas redes das iniciativas independentes é compreensível essa mudança, pois o baixo custo dessas ações junto a mobilização ofertada pelas lives é algo que consegue ir muito além dos eventos presenciais. A internet e sua possibilidade de longo alcance vão somando positivamente às editoras, seja em debates, apresentações e também lançamentos.
Além disso, o avanço que as editoras tiveram nos canais de comunicação foi grande. Potencializar as redes sociais foi o primeiro passo. Depois do esquema adaptado, foi notável o quanto a comunicação direta com o público foi algo que trouxe vantagem. A pandemia e todo o isolamento social mudou os moldes de comunicação e comercialização tantos das editoras quanto de outras iniciativas, mas também é inegável que isso já era algo que estava sendo necessário – os dados apresentados do último ano só deram um empurrão para essa migração.
O ponto forte das editoras independentes é a inovação.Tudo é feito de maneira singular, partindo de ideias únicas dos seus fundadores, escritores e público alvo. Isso nem de longe é ruim, seus trabalhos dão identificação a diferentes grupos, além de divulgar talentos e boas histórias. E por que não as suas próprias histórias não serem contadas? Na próxima aba serão apresentadas cinco editoras que vêm trilhando suas marcas na bibliodiversidade brasileira.