ÚLTIMA VIAGEM
Muito mais do que
decifrar palavras
![TIRINHA]](https://webjornalismo.unicap.br/bibliobulico/wp-content/uploads/2021/06/TIRINHA.jpg)
Sempre lembro do meu pai falando “minha filha, eu queria muito ler mais, mas eu não tenho esse hábito”. Essa mensagem permanece na minha cabeça. Desde o momento que eu me formei na alfabetização, até antes disso, meus pais me incentivaram muito à leitura. Minha mãe, pedagoga e professora de escola, é a pessoa que sempre caminhou junto comigo para essa formação, inclusive, me ensinando a ler. Quando eu quase reprovei na alfabetização, ela me disse, “eu sentei com você e lhe ensinei. Mas não queria ver você repetindo uma série”. Meu pai, militar, da maneira dele, me incentivou também, trazia do quartel gibis de um personagem chamado “Recrutinha”, que eu e meu irmão dividíamos.
Aos poucos, fui entendendo os meus gostos. Comecei com Harry Potter, o meu primeiro contato com um livro mais “cheio”, li os sete duas vezes. Depois passei para algo mais robusto, como Dom Casmurro, e não entendi nada, não entendi mesmo. Mas decidi continuar, pois tinha chegado uma professora de literatura nova no ensino médio, chamada Jennifer.
Jennifer nos falava de histórias como O Cortiço e Senhora de uma maneira que até a turma do fundão brigava com quem ousasse conversar na aula. Ela subia nas cadeiras, gesticulava, elevava a voz, sorria, brincava… ela vivia o livro, era uma verdadeira performance. Aquele foi o meu primeiro contato com o amor pela literatura. Até hoje, eu lembro dela quando leio algum livro que ela tenha nos “forçado” a ler e apresentar na sala. Gostaria de um dia agradecer a ela e dividir histórias do mesmo jeito que ela fez comigo.
“É preciso que a leitura seja um ato de amor”.
– Paulo Freire
Foi em 2020, na pandemia, que o novo normal repleto de incertezas me fez voltar a ler para espantar a ansiedade. Comecei aos poucos e, logo, comprar livros se tornou uma compulsão. Comecei a pensar que era incrível, e absurdo ao mesmo tempo, o fato de que a história e as emoções que um livro conta filme nenhum consegue transmitir.

Cada passo nessa estrada foi em épocas diferentes, com amigos diferentes, que mesmo vivendo no imaginário de alguém que os colocaram no papel, sempre tinham alguma coisa para falar para mim naquele momento. Um conselho, uma lição, ou só me ajudar a esquecer um pouco a tristeza. Sou grata por isso, grata pela união do real e fictício que me formaram, e ainda formam, como pessoa. Ninguém teve a minha mãe, meu pai, Jennifer e todos os outros que me encontraram nesse caminho. Sou ciente desse privilégio e agradecida por ter chegado até aqui.