ESPAÇO LEITOR
Bibliobúlico é a pessoa que lê tanto a ponto de esquecer do mundo à sua volta. E aqui é um espaço dedicado aos fãs da literatura para compartilharem suas viagens sem sair do lugar, no mundo dos livros.
Crescimento
Carmem Cristiane, 50 anos
Livro preferido: Orgulho e Preconceito (1813), Jane Austen
A leitura é uma valiosa viagem onde dinamiza o raciocínio e a interpretação. É importante para alimentar a competência da comunicação e do relacionamento interpessoal. Nos tornamos pessoas mais analíticas e com uma visão melhor interpretada sobre o “o ser e o universo”.
Apaixonada pela leitura… não. Amo mesmo é escrever, mas sei que este gosto pela escrita não existiria se não fosse a leitura. Comecei com poesias e ainda lembro que a primeira que me fascinou foi “Canção de exílio”, de Gonçalves Dias. Era como uma história, um recado, uma súplica que eu li aos meus 9 anos de idade, tendo como apoio um candeeiro fumacento pendurado na parede do meu quarto. Passava as folhas em câmera lenta, pois se minha mãe escutasse qualquer barulho… ah! Foi meu tempo de descobertas, foi meu bilhete para um outro mundo, onde eu poderia ser qualquer pessoa ou estar em qualquer lugar.
Orgulho e Preconceito é um livro especial. Ele além de me permitir viver em outra época, ainda abriu mais uma porta… que eu levei minha filha. Essa foi a melhor de todas. Alguém conhece o caminho que está em minhas mãos? Você vai amar! Não é mesmo, minha filha?
Calmaria
Raíssa Moura, 22 anos
Livro preferido: As Aventuras de Sherlock Holmes (1892), Arthur Conan Doyle
Ler hoje em dia para mim é sinônimo de autocuidado. Eu leio para descansar, viajar no espaço-tempo de uma história e, realmente, me ver em outro mundo. Fui introduzida à leitura desde pequena e sempre adorei, mas com o tempo e as obrigações (inclusive obrigações literárias da escola) eu me afastei desse hábito. Minha irmã costuma brincar comigo, quando digo que quero comprar um livro, porque tenho vários na estante que comecei e não terminei. Isso aconteceu comigo de um tempo para cá. Me perdi na leitura e perdi o prazer que eu tinha em viajar pelas letras e linhas. Talvez, pelo cansaço. Ler demanda curiosidade e atenção e, em algumas vezes, eu não queria ter que me debruçar e sair da realidade para entrar em outra. Vai que essa nova dimensão é mais complicada do que a que eu vivo?
Até que finalmente reparei que ler é um ato de amor próprio. Também é um privilégio poder ler e saber ler. Passei a procurar livros que fizessem mais meu estilo, como romances atuais e clássicos, como Sherlock Holmes, e consegui trazer o hábito que tinha se perdido de volta. Hoje posso dizer que leio quando quero descansar e que amo poder mergulhar em novas histórias, que trazem conforto, angústia e, por quê não, desconforto. A leitura, atualmente, é um dos meus passatempos preferidos. Definitivamente, dessa vez, não vou deixar os livros fugirem de mim – e nem fugirei deles.
Religião
Ulysses Gadêlha, 26 anos
Livro preferido: Cândido ou O Otimismo (1759), Voltaire
Ler, pra mim, é como uma religião, cujo objetivo maior é o conhecimento. Quando eu leio meus livros, eu mergulho nas reflexões que as obras trazem, tanto que, por vezes, me pego distraído pensando nas coisas que o autor diz. Sou fã de ficção e de obras teóricas, porque acho que os livros são como a extensão dos pensamentos e emoções. A gente se permite viajar pelas frases e palavras, se alimentando daquelas ideias, dando significado a tudo que a gente vive. Me sinto plenamente realizado pela relação que construí com os livros!
Afago
Rannya Freitas, 19 anos
Livro preferido: Felicidade Clandestina (1971), Clarice Lispector
Leio porque é através das viagens descritas em códigos que, embora fincada neste tempo e espaço, posso conversar com quem viveu em outrora. Leio porque a licença poética aquece o meu ser, por vezes, ansioso diante desta modernidade líquida. Leio porque, acima de tudo, são as folhas que me compreendem, desde a Bíblia até os artigos que buscam explicar as inquietações pelas quais nos permitimos o ímpeto da coragem para buscar soluções. Leio porque é assim que a vida, em grande medida, faz sentido para mim.
Sonho
Thaise de Macêdo F.G. de Lima, 9 anos
Livro preferido: Numa Noite Muito Escura (2010), Simon Prescott
Eu gosto muito de ler porque várias pessoas dizem que eu leio bem, que escrevo bem. Quando eu mostrei à minha tia da escola um texto que eu fiz sobre humildade ela gostou muito e disse que eu tenho muito talento para ser escritora.
Toda vez que eu leio um livro, ou um gibi, parece que eu estou vendo a imagem que o livro conta e eu gosto muito porque parece que eu estou lá na história, participando da história.
Eu gosto muito de ler, muito, e escrever. Quando eu crescer quero ser escritora. Então, por isso, eu gosto de ler.
Resgate
Desidéria Maria de Macêdo, 64 anos
Livro preferido: Capitães de Areia (1937), Jorge Amado
Eu adoro a leitura. Para mim a leitura é muito importante. Começou muito cedo, aos quatro anos de idade eu comecei a aprender a ler com a minha irmã e de lá pra cá esse gosto só fez aumentar, cada dia que se passa eu gosto ainda mais.
A primeira poesia que eu gravei, que eu decorei, eu tinha sete anos de idade, era uma poesia de Olavo Bilac chamada “Ave Maria”. Li Machado de Assis, José de Alencar, várias obras de Olavo Bilac, depois passei por Cecília Meireles, depois Jorge Amado, vários autores me encantaram. Autores inclusive de outros países.
Para mim a leitura é um resgate social, um resgate da pessoa como cidadã. Todo ser humano tem direito a ler e escrever.
Eu amo a leitura, ela é parte de mim, faz parte da minha vida, do meu dia a dia. Ler para mim é a maior diversão, é o maior prazer.
Provocação
Saulo Fonseca, 25 anos
Livro preferido: O Manifesto Libertário (1973), Murray Rothbard
Leio, primeiramente, pois se tornou um hábito por conta do estímulo precoce dos meus pais. Segundamente, porque me sinto bem quando leio; o repertório intelectual é uma virtude que valorizo no indivíduo e investir nele me é prazeroso, e também traz a sensação de não ser mais um vagante que não sabe para onde está indo ou o que faz no mundo. E, por último, mas não menos importante, porque creio que a inteligência me trará um bem estar material a médio prazo. Alguns dos gêneros que mais gosto de ler são filosofia, psicologia, economia e arte.
Autoconhecimento
Mylena Cristina, 24 anos
Livro preferido: Manifesto do Partido Comunista (1848), Friedrich Engels e Karl Marx
A leitura é um hábito que exercita minha capacidade de conhecer e refletir sobre a humanidade. O que começou como um entretenimento, hoje é um exercício de formação humana e de meditação emocional. Leio não só para entender o mundo, mas principalmente para provocar o descobrimento de novas formas de ser humano, de me forçar a entendê-los. Dentro da singularidade do cotidiano, a leitura é uma porta para o plural, o não percebido e o desconhecido. Por isso, o exercício da leitura é uma prática diária e fundamental para mim.
Refúgio
Malu Cavalcanti, 24 anos
Livro preferido: Pollyana (1913), Eleanor H. Porter
Desde que eu me entendo por gente eu amo ler. Quando era mais nova e eu tinha pesadelos de madrugada, meu pai sempre pegava meu livro favorito da estante pra ler para mim. E, desde que aprendi a ler, eu sempre ficava fascinada. Às vezes, me imagino dentro da história ou crio os personagens na minha cabeça. A questão é: a leitura me submerge pra dentro da história. Quando eu leio eu sinto uma espécie de euforia. Às vezes, pra mim, a história é tão cativante que nem me importo de estar cansada: vou querer ir até o final. Ler pra mim, além de, politicamente falando, ser de certo modo algo revolucionário, ainda me faz sair um pouco da realidade, pois quando estou lendo, me foco apenas naquela leitura e esqueço o mundo afora.
Desenvolvimento
Thalles Gustavo, 22 anos
Livro preferido: O Processo (1925), Franz Kafka
Ler pra mim foi um processo transformador, consegui me entender e encontrar respostas de dúvidas que tive durante muito tempo. Acho divertidíssimo a leitura por sempre adquirir novos conhecimentos e “sentir” uma evolução o tempo todo. Sempre que compro um livro novo me divirto muito com esse processo de ler ele, e depois fazer uma análise do que achei do livro, fora que procuro fazer análises criativas ou divago nos pensamentos tentando sempre relacionar isso com uma ajuda minha pessoal ou para um o grupo que estou. Então, vejo a leitura como algo fascinante e que é um procedimento de envolvimento com o meu autodesenvolvimento.
Imaginação
Enrique Andrade, 24 anos
Livro preferido: Morte e Vida Severina (1955), João Cabral de Melo Neto
Penso ser uma mentira apontar um único valor ao hábito de ler. Digo isto acreditando na pluralidade que a leitura pode nos apresentar. Ler é uma via para pluralidade, é um caminho sem volta para o alargamento das possibilidades de existir e conhecer o(s) mundo(s). Assim sendo, a leitura é a possibilidade de, como as crianças fazem, armar a barraca com um lençol velho e adentrar, construir realidades e analisar as realidades existentes. Ler me ensina(ou) que nada é. As coisas estão por ser e se fazem a cada momento. Nós fazemos e somos feitos pelas páginas de livros e de vida que nos permitimos ler.
Realidade
Deborah Torres, 19 anos
Livro preferido: As Brumas de Avalon (1979), Marion Zimmer Bradley
Meus pais não liam para mim enquanto eu era criança, nem mesmo falavam sobre isso e eu não gostava dos poucos livros na escola. O que me fez despertar o interesse em leitura, foi o mesmo que me despertou para a pintura: desenhos animados japoneses.
Os animes tinham a história principal, mas eu queria a mais, mesmo que fosse em um universo inteiro diferente, porém mantendo os mesmos personagens, essas seriam as fanfics. Foi um ano inteiro, dos meus 11 aos 12, virando noites e sonhando com a continuação das histórias que os fãs faziam. Mas chegou um momento que minha irmã recomendou um livro de verdade, com personagens autorais e eu descobri que eles também eram interessantes.
Antes, pelo menos durante minha adolescência quase toda, eu interiormente lia personagens femininas em primeiras pessoas (mesmo em livros de ficção e fantasia) para descobrir como as pessoas se comportam, os diálogos dos adultos ou mesmo querer saber coisas pelas quais adolescentes viviam no ensino médio para me preparar quando chegasse minha vez.
Mas a ficção não chega aos pés da realidade e eu não me apaixonaria pelo mocinho porque estamos nos encarando e ele é bonito, sem termos nunca falado uma palavra com o outro. Que eu com 18 anos posso estar no mesmo cargo que alguém com 30. Que sou capaz de fazer coisas ruins, mesmo tendo julgado como irracionais os que fizeram o mesmo.
Hoje em dia, por enquanto, consigo apenas ler aquilo que seja bem construído, como se a narrativa fosse tão lógica que pudesse acontecer. A evolução do meu gosto literário é como se antes fossem novelas mexicanas produzidas pela Disney e agora são filmes nomeados a melhor roteiro e melhores atores pelo Oscar.
Lar
Ygor Nunes, 23 anos
Livro preferido: O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991), José Saramago
A palavra, espécime tipo de abstração, é sempre efêmera. É de sua natureza morrer quando nasce. Sendo assim, na tentativa de perpetuá-la, a presenteamos com uma casa: a escrita.
Nela, podem morar ideias novas e velhas, de alguém que acabou de conhecê-la ou de um velho confidente seu. De alguém recém chegado ou há muitos séculos já ido. Independente do tempo, ali a ideia permanece sempre à espera de alguém que passe pela porta, entre na casa, e se surpreenda com a mobília da sala. Lendo, visito lares. Lá, eu sei que eu posso entrar. Eu sou de casa.
Terapia
Aline Veloso, 28 anos
Livro preferido: Harry Potter e as Relíquias da Morte (2007), J.K. Rowling
Sou leitora desde os 4 anos de idade. Aos 5 anos amoleci meus primeiros dentes quando tropecei e caí na volta da escola, porque lia um livro enquanto andava. Hoje em dia, a leitura tem sido fundamental na luta contra a minha ansiedade. Enquanto leio, esqueço das minhas paranoias, acalmo meus ataques de pânico, e mergulho em mundos que apenas a leitura é capaz de me proporcionar. Enquanto educadora, acredito firmemente que a leitura (de livros, jornais, rótulos de shampoo, seja o que for), associada a interpretação textual, é capaz de mudar os rumos do nosso país e transformar vidas.
Acolhimento
Luiza Pernambucano Souza, 22 anos
Livro preferido: Os Sete Maridos, de Evelyn Hugo
Não lembro quando foi que comecei a ler. Desde criança sempre tive livros ao meu redor e toda semana ia na biblioteca do colégio pegar livros. Eu adorava livros infantis e com o passar do tempo fui evoluindo no estilo de leitura. Aos 10 anos, lembro de ler meu primeiro livro maiorzinho que foi O Diário da Princesa da Meg Cabot. Antes disso, eu já lia os livros de Judy Moody e Meu Querido Diário Otário.
Anos depois, comecei a ler sagas literárias como Percy Jackson e Jogos Vorazes. Essa época foi muito incrível porque meus amigos no colégio também liam, então tínhamos muito assunto em comum e gostávamos bastante de conversar sobre livros e as suas adaptações cinematográficas.
Sempre achei que lendo livros eu conseguia ser transportada para dentro da história de uma forma singular. Acho que é isso que tanto amo, não só é uma forma de viver outras realidades mas também de aprender sobre realidades diferentes das nossas. Até hoje, o mundo literário me proporciona amizades. Em 2019, conheci uma amiga na faculdade e ficamos muito próximas pelo fato de ambas amarem leitura.
Um ano depois criamos um Instagram literário chamado @quelivromassa para podermos compartilhar essa paixão com outras pessoas.
Descobertas
Victor Freitas, 23 anos
Livro preferido: O Grande Gatsby (1925), F. Scott Fitzgerald
Desde pequeno, sempre gostei mais de ler do que qualquer outra coisa. Enquanto meus amigos preferiam jogar bola eu ficava sentado em algum canto mergulhando em uma história nova. Já perdi a noção de quantas noites virei por não conseguir largar o livro até descobrir o que acontece e de quantos impactos já tive com cada reviravolta. Ainda tive o prazer de conhecer pessoas maravilhosas com a mesma paixão e trabalhar com várias em projetos relacionados. Não me importa se são histórias de ficção, não-ficção ou livros acadêmicos, se é algo de Puzo, Süskind ou Foucault, sempre vou ter a mesma paixão ao abrir um livro novo e descobrir o que tem ali.
Gratidão
Isabela Alves, 23 anos
Livro preferido: O Fio da Navalha (1944), William Somerset Maugham
Meu primeiro incentivo à leitura aconteceu quando entrei na escola privada, e não foi, como o esperado, por parte do currículo escolar que prescrevia paradidáticos (em média 4 ao ano). Já tinha lido livros de filmes que tinha visto, mas o hábito começou quando conheci uma amiga muito especial pra mim, atualmente. Ela sempre estava lendo algo, comecei a partilhar desse hábito com ela (ela me emprestava os livros da sua mãe). Acho que comecei por “A Menina que Roubava Livros” e me emocionei. A partir daí, percebi como estar lendo era gratificante pra mim. Ler experiências de pessoas e personagens, estar em locais nunca visitados e sentir como outro parece encanto, magia ou viagem, contando ainda com a autonomia da nossa imaginação particular. Para mim, e acredito que para todos aqueles que se permitem reservar algum tempo para leitura, somos de alguma forma suspensos e alheios à realidade. Por meio de páginas, vivemos mais de uma vida, milhares delas e de nenhuma forma humanamente isso seria possível.
Identidade
Gabriela Buarque, 23 anos
Livro preferido: Alice no País das Maravilhas (1865), Lewis Carroll
Comecei a ler desde muito cedo. Minha avó comprava livros para que eu ficasse quieta. Eles foram minha primeira companhia, mas passamos um tempo separados. Quando nos reencontramos, tudo voltou. É uma das partes de mim que me deixa 100% completa. Leio sobre tudo, mas prefiro a fantasia, os monstros, adoro a intensidade com que eles são descritos e a forma como o autor tenta passar esse sentimento de medo quando no final o sentimento principal é o amor. Gosto de pensar e dizer que no terror (meu gênero preferido) a ideia principal geralmente não é o medo, mas o amor — com um coração partido. E parece contraditório dizer que isso é parte do que preenche a minha existência mas é extremamente reconfortante. São os objetos mais importantes da minha vida!